Por Washington Luiz de Araújo, jornalista
Em novembro de 2000, fiz parte de uma comitiva que acompanhou Lula a Cuba. Lá, fomos recebidos por Fidel Castro. Jornalistas que foram na viagem enviavam rotineiramente matérias com picuinhas a respeito de Lula e dos que estavam com ele. Quando Fidel comunicou que falaria com a gente, estes jornalistas solicitaram autorização para participarem da conversa. Fidel negou, afirmando que com a gente falaria com a emoção e com os jornalistas falaria com a razão. Falou com nosso povo com muita emoção por duas horas e quarenta e sete minutos e, depois, com os jornalistas. Estou fazendo este “nariz de cera” só para falar do livro “A Verdade Vencerá – O Povo Sabe porque me Condenam”, fruto de entrevista com Luiz Inácio Lula da Silva feita em fevereiro último.
O eterno presidente fala com emoção e com a razão. Muito mais com emoção, como tudo o que faz.
As 125 perguntas foram feitas por Gilberto Maringoni, Ivana Jinkings, Juca Kfouri e Maria Inês Nassif. O livro, da Editora Boitempo, traz ainda colaborações de CamiloVannuchi, Eric Nepomuceno, Luis Fernando Veríssimo, Luis Felipe de Alencastro, Luis Felipe Miguel e Rafael Valim.
Aqui algumas das respostas, mas só quem ler o livro tomará conhecimento, de forma mais ampla, do pensamento de Lula sobre bastidores de sua trajetória sindical e política, sobre a perseguição a ele, sobre Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso, Brizola, presidentes de vários países, família, amigos…
– Se não acreditasse em justiça, não teria proposto a criação de um partido político, eu ia propor uma revolução
– O preço que vai ser pago historicamente é a mentira contada agora. A Polícia Federal mentiu na denúncia, e o Moro sabia que não era verdades e aceitou e transformou as mentiras num processo que me condenou.
– A lei é feita para ser interpretada corretamente, não para ser interpretada politicamente.
– Se sou o chefe de uma quadrilha, como eles falaram, por que é que os meus “assaltantes” roubaram tanto, 100, 200 milhões de reais, e este babaca aqui ficou com um apartamento de cento e poucos metros quadrados pra ele?
– O Brasil tem não tem o direito de se automutilar, como estamos fazendo. Essa situação política em que a única forma de agradar é o chamado mercado – interno ou externo – e destruindo o patrimônio que você próprio construiu é uma loucura..
– Não fui eleito para ficar o que eles são, eu fui eleito para ser quem eu sou. Tenho orgulho de ter sabido viver do outro lado sem esquecer quem eu era.
– Você tem o seu lado; embora governe para todos, você sempre tem o seu lado.
– Um dia cheguei a falar para a Dilma: ‘Olha, companheira, não confunda respeito com medo. Quando o cidadão te respeita, ele vai fazer coisas que você espera; quando ele tem medo, ele começa a evitar conversar com você’.
– Se tem uma coisa que o povo gosta é de viver bem. Ninguém se conforma de ganhar pouco, ninguém se conforma de comer mal.
– O cidadão que não pode consumir, não pode comer, vestir, beber, é um pária, não é um cidadão.
– Eu sei quem são meus amigos de sempre e quem foram meus amigos eventuais. E com quem estou hoje? Com meus amigos de sempre. Os eventuais desapareceram.
Quero voltar a governar e provar que tenho competência de recuperar este país. Quero fazer de novo este país sorrir. É por isso que eu quero voltar. Não é para ficar me vingando de ninguém.