Longa vida ao Jornal do Brasil

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Por José Sérgio Rocha, amigo do blog, jornalista que trabalhou nos “primórdios” do Jornal do Brasil

Uma ótima notícia: o JORNAL DO BRASIL está voltando. Parece que já chegará às bancas neste domingo. Ocupa uma sede provisória no Centro do Rio de Janeiro e, com toda a certeza, vai ser um arraso. Acho que essa história do fim do jornal do papel é furada. Fui dar um rolé com a patroa em Madrid e vi que nas bancas ainda existe uma variedade boa de diários e semanários de papel.




Torço para que o JORNAL DO BRASIL e o Globo – que está mais legível mas só vai melhorar de verdade quando separar opinião de notícia – além da Folha e do Estadão, se tornem, finalmente, concorrentes à altura do EL PAÍS, jornal espanhol cuja edição brasileira hoje é, para mim e para muita gente, o melhor … JORNAL DO BRASIL!

Que o Gazzaneo, o Oldemário, a Condessa, o Lutero, o Aluizio Machado, o Callado, o Hedyl e – por que não? – o Vovô do Elevador, o Xexelento (não confundir com o ótimo Artur Xexéo) e o Armando Garotinho (“assessor do Andreazza”), onde quer que estejam, ajudem o Gilberto Menezes Côrtes, o Romildo Guerrante, o Octávio Costa, o Toninho Nascimento, o Renato Prado nesta linda cruzada liderada por Omar Peres!

Por causa disso, publico novamente um texto que fiz há décadas para o meu falecido blog “Quem é vivo sempre aparece” e que republiquei aqui mesmo no Feiceburro:

A imagem (abaixo) é do vigarista que vos fala e foi tirada pelo José Carlos Avellar, que um dia, em 1973 ou 74, apareceu no jornal com uma nova câmera (Nikkon, Leica, sei lá) e tirou um monte de fotos. A minha ficou guardada.

Segue o texto antigo sobre minha entrada no JB, cujo título original foi…

MEU PISTOLÃO SUBIU NO TELHADO

“Minha entrada no Jornal do Brasil foi tragicômica. Depois de passar no vestibular do Cesgranrio, no início de 1973, precisava de emprego urgente.

Minha mãe, ex-aeromoça da Cruzeiro do Sul, era servidora do Ministério do Trabalho e complementava o orçamento costurando numa Singer antigona. Aprendera o novo ofício poucos anos antes, por absoluta necessidade, copiando os moldes da Burda, revista de moda alemã. Tinha tanto jeito pra coisa que nosso apêzinho no Posto 6 virou miniateliê com muitas freguesas ricas, uma delas artista plástica e ex-embaixatriz.

Maria Martins, quase octogenária, soube que o filho da costureira, um rapaz magrinho de óculos, naquele mesmo ano ingressara na faculdade de Comunicação da UFF e teria que largar o emprego no Instituto Verificador de Circulação, onde eu viajava pelo país levantando a vendagem de jornais e revistas, por causa do horário das aulas.

Não teve dúvidas: escreveu uma bonita carta de apresentação para sua amiga Maurina Dunshee de Abranches, a Condessa Pereira Carneiro, e me entregou para que eu tentasse uma vaga no Jornal do Brasil. Muito tímido na época – criado no subúrbio, a Zona Sul me assustava um pouco –, fui à Rio Branco levar a tal carta. Aí soube que o endereço novo era o nº 500 da Avenida Brasil, para onde a redação e a diretoria já haviam mudado.

Passou o fim de semana e, não lembro o porquê, fiquei mais alguns dias com aquele passaporte para a glória e o sucesso profissional, via pistolão, em minhas mãos. Um dia, criei coragem e peguei o ônibus Olaria-Copacabana e desci em frente ao querido elefante branco. Peguei o elevador e fui ao nono andar, entreguei a carta à secretária da diretoria, simpaticíssima, mãe da Beatriz Bomfim, de quem eu viria a ser colega. Polidamente, ela me contou uma história triste, no início achei até que estava me enrolando:

– A Condessa não está agora, mas vou entregar a carta mais tarde, quando for possível.

Sem que eu perguntasse – estava mudo e envergonhado –, dona Sinésia Bonfim (viúva do bravo Orlando Bonfim, assassinado pela ditadura) disse mais:

– Não se preocupe que eu entrego a carta. É que a Condessa foi ao enterro de uma amiga dela. Posso abrir o envelope?

Balbuciei que sim. Quando ela começou a leitura, me encarou pela primeira vez. E à medida que lia, com muita atenção, voltava ao olho-no-olho, com muito desconforto.
Foi então que eu soube da tragédia: o enterro era do meu (aliás, minha) pistolão.

Voltei para casa arrasado. Tem coisas que só aconteciam comigo e com o Botafogo. Os dias se passaram e nada de receber algum telegrama doJornal do Brasil me chamando para alguma entrevista, sei lá… Teriam, quem sabe, tentado me encontrar pelo telefone, se tivéssemos um.

Ou seja, fudeu!

Minha irmã mais velha e despachada resolveu com um telefonema. Ligou para o JB.

– Jornal do Brasil, boa tarde!

O pobre do telefonista teve que ouvir a história maluca e ficou sem saber o que fazer. Se ligava para a diretoria, para o departamento pessoal, melhor seria a redação. E jogou para o número da Internacional, onde quem atendeu foi a então subeditora Clecy Ribeiro. O editor era o paraibano Humberto Vasconcelos.

A ótima falante e melhor ainda ouvinte Clecy foi direto ao ponto.

– Tenho uma vaga aqui, se ele puder trabalhar a partir das cinco da tarde até dez, onze da noite. Não é vaga de jornalista, mas alguns começaram assim.

Topado. Fui no dia seguinte e aprendi rapidamente o novo ofício: eu passava no telex de 20 em 20 minutos e tirava das máquinas da AP, UPI, ANSA e France Presse (a DPA e a Reuters só chegaram anos depois) os telegramas (telex) enviados por essas agências de notícias internacionais.

Levava para a mesa da Clecy ou do Humberto e passava 20 minutos lendo tudo quanto é jornal e os próprios telegramas que não haviam sido aproveitados.

Passaram-se uns meses e abriram vagas para o novo cursinho de jornalismo, a verdadeira porta de entrada do JB, sem pistolão. O curso era dado pelo editor de Pesquisa, Roberto Quintaes. Fiz a prova de conhecimentos gerais, com 100 perguntas, e esqueci aquela porra.

Eu que já estava bem menos tímido, e começara até a fazer umas notinhas de colunão. Num belo (e põe belo aí) início de noite, entra na sala da Internacional o diagramador Fichel Davit Chargel, com seu bigodão ainda preto. Davi tivera acesso às provas, já corrigidas, e esculhambou o nível da garotada. Me encolhi na cadeira.

– Mas os 30 que passaram (éramos, sei lá, uns 300 candidatos ou mais) se saíram bem. O primeiro colocado acertou 95 das 100. O nome da figura é… ué??? Não é você, ô cara?!

Valeu por ter soprado as respostas, embaixatriz!”.

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