Por Washington Luiz Araújo, jornalista –
“Pobre do povo que precisa de herói”.
A frase do poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht, celebrizada na peça teatral Galileu Galilei, me veio à cabeça ao ler sobre Luiz Carlos Ruas, o ambulante que foi barbaramente assassinado a chutões na Estação Metrô Parque Dom Pedro II, em São Paulo, na noite de 25 de dezembro, Natal, ao defender um travesti. Fiquei pensando na frase. Fiquei pensando nesse e em outros casos que têm ocorrido no país. Pobre do povo que não reconhece seus heróis e dá nome de heróis a quem nada tem a ver com isso.
Pobre é um povo que se acha mais importante do que o outro, que vê ambulantes, moradores de rua, garis, balconistas e outros trabalhadores como seres humanos inferiores.
Pobre é o pobre que não se vê representado por um seu igual no campo social e prefere se emocionar com os heróis de pé de barro construídos pela velha mídia, capitaneada pela Rede Globo de Televisão.
O espertalhão Pedro Bial nunca se cansou de chamar os participantes do malfadado BBB – Big Brother Brasil de “meus heróis”. Galvão Bueno, outro espertalhão da mesma Rede Globo, vive enaltecendo jogador de futebol como herói.
Mesmo os mortos e feridos do trágico voo do time da Chapecoenses nada têm de heróis, como exageraram nos últimos dias. São vítimas de uma tragédia e ponto.
Luiz Carlos Ruas, o ambulante que intercedeu e teve sua vida ceifada por monstros, esse sim pode ser chamado de herói, sobretudo nestes tempos nos quais está cada dia mais difícil encontrarmos alguém que se coloque contra uma injustiça.
O juiz de primeira instância Sérgio Moro tem cometido enormes injustiças na alardeada Operação Lava-Jato. Mas vejam só a contradição: ele é chamado de herói por muitos.
Utilizemos a ação de Luiz Carlos Ruas, que perdeu a vida defendendo uma pessoa frágil, e as ações de Sérgio Moro, que prende pessoas para fragilizá-las e fazê-las delatar supostos corruptos, traçando uma teia de intrigas e de injustiças. Quem é o herói? O meu chama-se Luiz Carlos Ruas. Cada uma escolha o seu.
Luiz Carlos Ruas não terá minuto de silêncio, não será chorado por Galvão Bueno e companhia, não será nome de rua, não ganhará memes da direita e não terá sua foto reproduzida nos perfis dos internautas conservadores das Redes Sociais, mas é o verdadeiro herói deste trágico ano de assassinos de fato e de direitos democráticos e sociais de um pobre país chamado Brasil.