Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
Meu pai, Luiz Otávio de Araújo, veio de Pernambuco para São Paulo com pouco mais de 20 anos, em meados da década de 50. De uma família grande, foi morar em Mauá, com irmãos que já estavam nessa cidade do Grande ABC. Meu pai também trabalhou na indústria da região, como peão. Trazia, em seu corpo, tristes e involuntárias tatuagens: cicatrizes, marcas de ácido sulfúrico que nele pingava quando carregava caminhões com esse produto químico de alta periculosidade. Não existia, na época, um sindicato forte, que lutasse pela segurança no trabalho.
Depois, meu pai passou a trabalhar como autônomo; estava cansado de bater cartão, receber parcos salários e de viver, cotidianamente, a precariedade no trabalho. Meu pai passou a vender redes de balanço, que vinham da região onde nasceu, Inajá. E foi assim, carregando até 10 redes nas costas diariamente, que meu pai criou a mim e a meus quatro irmãos (dois homens e duas mulheres).
Meu pai, também conhecido como Lula por muita gente, nos ensinou o quanto são essenciais a dignidade e a honestidade e que só o trabalho duro, de sol a sol, como dizia, é que poderia nos dar alguma coisa melhor nesta vida. E não abria mão de que nós estudássemos. Ele, que só fizera até o segundo ano primário e era casado com a também pernambucana Inez, que nem isso conseguiu. Minha mãe veio a escrever e ler um pouco somente depois dos 40 anos.
Meu pai, assim como muitos brasileiros até hoje, guiava-se muito pelo que o “Jornal Nacional” falava. Ele era de dormir cedo, mas só o fazia depois de assistir esse noticiário. Só depois de muito tempo, quando começamos a ter um pouco de noção política, começamos a conversar com ele sobre isso, e ele foi mudando de ideia.
E mudou muito mais quando voltou ao Nordeste, dois anos depois das eleições de um outro Luiz, pernambucano como ele, mas que veio para cá tangido pela seca, ainda criança, para não morrer de fome. Meu pai enfrentou várias secas ao lado das irmãs e dos irmãos (meu avô teve 30 filhos; viúvo, ficou com 17 filhos e depois se casou novamente e teve mais 13), mas nunca correu o risco de fome.
Como eu ia dizendo, meu pai presenciou as agruras da pobreza, trabalhando muito no “cabo da enxada”, como dizia. Sempre resignado, tinha em mente que rico é rico e pobre é pobre, vendo muita criança morrer de desnutrição. Não “vingando”, como dizia.
Ele só começou a perceber uma fresta nesse muro quando esteve no Nordeste, em 2005. Lá, viu pessoas vivendo dignamente, com a agricultura e o comércio funcionando fortemente. Voltou e depois esteve em sua terra natal muitas vezes, sempre dizendo que não aceitaria mais que falassem mal do governo Lula. Faleceu defendendo o seu xará contra as “fofocas”, como ele dizia, do “Jornal Nacional” e das rádios.
Meu pai e minha mãe cresceram muito politicamente graças ao governo Lula. Minha mãe neste momento passeia no Nordeste, indo visitar a irmã do meu pai, que amanhã completará 104 anos de vida bem vivida. Meu pai chegou a presenciar os 100 anos de Mariquinha, sua mana mais velha, mas faleceu dois meses depois, em dezembro de 2012, aos 83 anos.
Hoje, comemorarmos os 71 anos de vida do xará de Luiz Otávio. Xará que abriu os olhos de meu pai, mostrando que o governo pode e deve contribuir para que o pobre tenha uma vida melhor, uma vida digna, uma vida com perspectivas reais de crescimento (e não mais apenas “esperança”), mostrando que há como acabar com a fome, com a miséria, com o sistema de castas cultivado e adorado pela elite conservadora. Leio que o nome Luiz vem do germânico; significa “combatente glorioso, guerreiro famoso”. Nada mais correto.
Salve Luiz Inácio Lula da silva. Salve Luiz Otávio de Araújo. Parabéns a todos os brasileiros que reconhecem que “nunca antes neste país”, houve tanta melhoria na vida dos pobres como houve nos últimos 13 anos, período de inclusão social em níveis jamais vistos ceifado por um golpe parlamentar-jurídico-midiático. Essa é a história presente. Precisamos lutar. Que estejamos vivendo “apenas” uma breve interrupção nefasta, um interregno sombrio. Precisamos lutar para que sejam retomados os tempos dignos de Lula e Dilma.
Feliz aniversário, Luiz Inácio Lula da Silva. A benção, meu pai.