Lula agiu como o estadista que é e como o torneiro mecânico que nunca deixou de ser ao pôr sua turma no torniquete
Compartilhado de Brasil 247
Antes de embarcar para a mais recente viagem à Europa, na última segunda-feira, um Lula que parecia pleno no exercício da Presidência da República deu ótima entrevista a Marcos Uchoa, da EBC. Era a 2ª edição do podcast presidencial, um programa que vem a calhar no ecossistema de informações públicas à guisa de tanta recalcitrância na cambaleante mídia tradicional em reconhecer os evidentes sinais da retomada brasileira – tanto na economia quanto nos programas de resgate social e na cena geopolítica internacional. Na conversa muito bem conduzida por Uchoa, Luiz Inácio Lula da Silva dava por encerrado o ciclo de estranhamentos internos de integrantes de sua equipe ministerial. Ele andava alarmado com os alertas dando conta de um surto de ingenuidade e arrogância que travava o deslanche de seu Governo.
Pode-se dizer que o presidente agiu como um técnico de basquete ou de vôlei que pede um tempo no decorrer da partida para ajustar o time e fazê-lo contornar situações de jogo que poderiam levar à derrota. Prefiro crer em minha convicção: Lula agiu como o estadista que é e como o torneiro mecânico que nunca deixou de ser ao pôr sua turma no torniquete, ajustar parafusos e porcas, calibrar as molas para funcionem a contentos os sistemas internos de freios e contrapesos e relembrou a cada um dos ministros que eles integram um Governo de transição destinado a repor o País num trilho por onde se trafega pela faixa do centro, à esquerda.
O exemplo da área econômica – e não só o do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, mas, também, do Planejamento de Simone Tebet, da Gestão de Esther Dweck e até do Desenvolvimento do vice Geraldo Alckmin – foi usado à farta. Haddad e Alckmin deram as mãos, desde a campanha de 2022, encarnaram a personagem de engrenagens de um mecanismo muito maior do que eles, ampliaram as conexões para a companheiras Tebet e Dweck e têm construído, em equipe, vitórias razoavelmente tranquilas no Congresso e no ambiente hostil do mercado financeiro.
A troica política e palaciana formada por Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secom, Alexandre Padilha, da Articulação Política, e Rui Costa, da Casa Civil, ouviu desse Lula mais pragmático, impaciente, inquieto e direto do terceiro mandato presidencial duras cobranças por mudanças de posturas. Escutaram determinações por metas e exigências para que dessem menos atenção a fofocas e mantivessem o foco no grupo – o Governo – e menos nos projetos pessoais que naturalmente têm em seus estados.
O presidente tem um carinho quase paternal por esses três ministros que despacham diariamente dentro do Palácio do Planalto, contudo sempre arruma um jeito de lembrá-los que política tem fila e quem se portar corretamente na espera guardando a senha nas mãos, como Haddad e Alckmin o fazem, seguirá tendo preferência. Azeitada a engrenagem de sua máquina palaciana, Lula foi ser gauche na vida no palco europeu – com o Papa, com o Coldplay; no Vaticano e sob as luzes da Torre Eiffel – para deixar claro que está tudo funcionando em todo lugar, conforme o planejado. E está, até aqui.