Lula ao mercado: “a gente não tem que pedir, tem que fazer”

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Durante encontro com jornalistas, presidente Lula criticou a privatização da Eletrobrás e reiterou que políticas sociais são “investimento”, e não “gasto”

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www.brasil247.com - Luiz Inácio Lula da Silva e Janja Lula Silva
Luiz Inácio Lula da Silva e Janja Lula Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Por Tereza Cruvinel 

O mercado financeiro teve novo tremelique esta semana, com as críticas do presidente Lula ao Banco Central, por ter mantido a taxa Selic em 13,75%. No café da manhã que teve ontem com jornalistas da mídia independente, Lula desabafou e mandou duros recados ao mercado. Aqui vão alguns trechos:

Sobre a frieza do mercado

“Eu nunca vi ninguém do mercado elogiar minhas políticas sociais. Eu sinceramente acho que quando falo de responsabilidade fiscal e responsabilidade social, estou chamando a atenção do mercado para o fato de que este país não pode continuar passando fome, as pessoas não podem continuar sofrendo, dormindo nas ruas das grandes cidades brasileiras, as pessoas não podem continuar pedindo esmolas como estamos vendo. Aqui em Brasília vemos o tempo todo pessoas na rua com cartaz na mão pedindo comida. Este país não tem o direito de permitir que isso aconteça. E portanto o mercado precisa ter sensibidade, não só para ganhar dinheiro mas também para permitir que os outros possam ganhar alguma coisa. “

Sobre as ameaças do mercado

“O mercado às vezes parece ficar esperando que a gente se faça confiar. Muitas vezes parecem esperar que a gente peça: por favor goste de mim, me deixe governar, me deixe fazer as coisas para as quais eu fui eleito. Eu acho que a gente não tem que pedir, tem que fazer. E temos que construir uma narrativa contrária à do mercado. Eu poderia dar como exemplo a privatização da Eletrobrás. Vocês viram. Os diretores aumentaram seus salários de R$ 60 mil para para R$ 360 mil. Sabem quanto ganha um membro do Conselho da empresa? R$ 200 mil para ir a uma reunião por mês. E estamos vendendo estatais para empresa chinesa, para empresa espanhola, para empresas públicas de outros países, numa total irresponsabilidade. Eu não abro mão daquilo em que acredito, não abro mão daquilo pelo qual fui eleito. Fui eleito para tentar melhorar a vida deste povo trabahador. Para tentar gerar empregos, para tentar acabar com a fome neste país. Fui eleito para tentar melhorar o ensino fundamental, para fazer escolas de tempo integral.  E não quero que ninguem diga que isso é gasto. Isso é investimento. Gasto é quando se vende um gasoduto por R$ 36 bilhões e depois fica pagado R$ 3 bilhões de aluguel por ano para usar o gastoduto que era seu. Isso é gasto. Gasto é privatizar uma empresa como a Eletrobrás e pega o dinheiro para fazer o quê? Para pagar juros da dívida? Isso é gasto. Agora, quando você investe na comida para o povo, na educação do povo, isso não é gasto. Chama-se investimento. É este tipo de investimento que eu quero fazer para que o povo viva mais decentemente neste país.”

Sobre o papel do Estado

Eu sinceramente não acredito, e também não faço questão de que eles me entendam…Se uma pessoa sob um viaduto, e vê um monte de gente, adultos e crianças dormindo junto com os cachorros, e não tem sensibiidade para isso? Se vêm pessoas morando novamente em palafitas no Nordeste e não se incomodam com isso? Vamos ter que voltar a fazer cisternas, vamos ter que o PNAE outra vez, vamos ter que recolocar dinheiro no FIES, vamos ter que refazer o que havíamos feito e foi desmanchado.

Às vezes fico chateado por ter que fazer estes discursos como presidente da República,  porque o mercado fica nervoso. Mas o  mercado ficou nervoso quando o Lehman e sócios quebraram a Americanas, com um desfaque de R$ 40 bilhões? Eu não vi. Agora quando se fala em aumentar R$ 2 no salário mínimo o mercado fica nervoso? Sabe, precisamos construir as nossas narrativas para não termos que abrir mão daquilo que foi a razão pela qual fomos eleitos. Acho que o mercado precisaria perceber que será muito bom para o mercado quando o povo estiver vivendo dignamente, trabalhando e vivendo às custas de seu suor. Isso já foi bom para o mercado de 2003 a 2010, foi muito com a presidenta Dilma Roussef. As pessoas são gananciosas, querem só para eles…Eu nunca vi esta gente falar em política social, falar em acabar com a fome ou preocupada com a educação do povo. Nunca vi. Isso deve ser preocupação só do governo.

Quando houve a pandemia, quem é que resolveu cuidar das pessoas? O Estado. O SUS que era criticado todo dia virou heroi nacional. Na hora da necessidade foi o SUS que enfrentou o problema. Quando houve uma crise econômica como a de 2008, quem foi resolver o problema,  aqui e nos Estados Unidos? Foi o Estado. Se o Estado não tivesse colocado o BNDES para ajudar o setor produtivo, a economia teria afundado naquela crise. Então, se o mercado não tem a mesma sensibilidade que eu, paciência. Não estou pedindo que concordem comigo, mas também não me peçam para concordar com eles. Porque meu objetivo é fazer com que o povo brasileiro volte a trabahar, volte a comer, a estudar, volte a ser feliz. Este é meu objetivo e vou persegui-lo, independentemente das críticas, do mau humor de algumas pessoas. Foi para isso que vim, e já se passaram um mês e oito dias. Estou angustiado porque quero ver as coisas acontecerem logo. Ontem fui lançar um programa de saúde, um centro de imagens no Rio de Janeiro, para pessoas mais pobres que nunca têm direito a fazer uma ressonância, um pet sacan. Pet scan é algo tão sofisticado a que pobre jamais vai ter acesso. Agora o SUS vai financiar Pet Scan. E também já cuida dos dentes das crianças. Fui ver ontem no Rio de Janeiro um centro de tratamento odontológico em que os filhos de pobres poderão fazer ortodondia, corrigir problemas dentároos com aqueles aparelhos de metal que só filhos de ricos usavam. Até junho vamos zerar uma filha de 8 mil pessoas que precisam de tratamento de olhos no Rio.  Tudo isso pelo SUS. Então se preparem porque vocês terão que escrever sobre estas coisas que vamos continuar fazendo.

Por que os juros precisam baixar

“Quando criamos o Bolsa Família, lá no começo, em 2003, muita gente escreveu que eu devia fazer estradas em vez de dar dinheiro para os pobres. Demorou muito para reconhecerem que o Bolsa Família era um programa de transferência de renda eficiente, copiado por muitos países. E agora voltará aprimorado, com uma assistência de R$ 150 para crianças de até 6 anos de idade. Logicamente há pessoas que gostariam que não houvesse isso. Que o dinheiro fosse emprestado ou usado para pagar taxa de juros. Mas no meu governo não será assim. Vamos pagar os juros da dívida porque somos responsáveis e vamos cuidar do povo pobre. Por isso os juros não podem ser tão altos. Precisam baixar.”

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