Participando do Diálogo de Alto Nível no encerramento da Cúpula por um Novo Pacto Econômico Mundial em Paris, o presidente brasileiro declarou que a sociedade precisa “se indignar contra a desigualdade”
Texto e foto por Fernanda Otero, de Paris, compartilçhado da Revista Construir Resistência
Depois de uma rápida passagem por Roma para encontrar o Papa Francisco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a Paris como membro de destaque da Cúpula por um Novo Pacto Mundial, um evento de grande porte e representatividade internacional com apoio da OCDE, UNESCO, ONU e União Europeia que pretendeu “estabelecer princípios para reformar instituições financeiras internacionais e a forjar novas parcerias financeiras mais equilibradas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento”. Os negociadores e organizadores principais foram Emmanuel Macron, presidente da França, e Mia Mottley, primeira-ministra de Barbados.
As mesas temáticas e conferências aconteceram no Palácio Brongniart, construído por uma determinação do imperador Napoleão Bonaparte para abrigar a Bolsa de Valores, e reuniu altos representantes dos interesses do sistema financeiro internacional, membros de ONG’s, sociedade civil e comunidades indígenas para dialogar sobre novas possibilidades de negócios mundiais. A ex-Presidente Dilma Rousseff, Presidente do Banco dos Brics participou com destaque em uma das seis mesas principais do evento.
Depois de ser ovacionado no show musical Power Our Planet, realizado na Torre Eifel (https://t.co/R585RMlTKO), o presidente Lula participou do Diálogo de Alto Nível que encerrou a Cúpula. Sentado ao lado direito de Emmanuel Macron, em sua intervenção, Lula apontou para a urgência de ampliar o alcance das ações de combate às desigualdades. Cobrou com elegância a revisão de formatos ultrapassados de órgãos internacionais que não atendem mais à sociedade contemporânea: “me desculpem Banco Mundial e FMI (Fundo Monetário Internacional),” mas “precisamos rever o funcionamento.”
Após o diálogo, a delegação brasileira formada pelos ministros da Fazenda Fernando Haddad, da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, e pelos comandantes da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, seguiu para um almoço de trabalho no Palácio do Eliseu, a sede do governo francês.
Uma avaliação geral da viagem e os principais temas deste encontro foram abordados pelo Presidente em uma coletiva antes de seu retorno ao Brasil.
O presidente iniciou comentando sobre a passagem pela Itália depois de 6 anos sem uma visita oficial entre os dois países e o convite que fez para que tanto o presidente, Sérgio Mattarella, quanto a primeira-ministra, Giorgia Meloni visitem o Brasil.
Lula disse que o grande tema do almoço de trabalho foi o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, “o problema mais sério” já que “é importante lembrar que nós precisamos da União Europeia e a União Europeia precisa muito de nós”. Sua previsão é que até o final do ano se tenha uma decisão sobre o assunto.
Confirmou que convidou Emmanuel Macron para participar em agosto do encontro dos países da América do Sul, Suriname e a Guiana Francesa, pois “é preciso notar que a maior fronteira (da França) é com o Brasil e eles fazem parte da Amazônia.”
Sobre os demais temas da viagem, ele revelou que o governo brasileiro deve divulgar em breve um projeto sobre a produção de energia eólica, energia solar e de hidrogênio verde, “que vai levar o Brasil a ser um exportador de hidrogênio para algumas partes do mundo.”
Lula fez piada com um de seus ministros que entrou atrasado na sala. Comemorou a disposição e bem estar da ex-presidenta Dilma Rousseff que está a frente do Banco dos Brics, dizendo que ela está muito bem pessoal e profissionalmente. Elogiou o ministro Fernando Haddad, que está trabalhando na Reforma Tributária dentro do Congresso Nacional. “No Brasil, as coisas estão andando bem,” disse ele.
Ainda sobre o almoço de trabalho com Macron, contou que foram abordados dois pontos relativos à Cultura. O primeiro foi sobre o Dia do Brasil na França e o da França no Brasil. Para Lula, o evento ficou desprestigiado nos últimos anos e “o povo brasileiro tem muita afinidade com o povo francês e com a cultura francesa”. O segundo tema referiu-se à Casa da América Latina, que, de acordo com o presidente, passa por um momento de baixa mas tem potencial de voltar a receber intensa atividade cultural.
Lula respondeu a todas as perguntas, até mesmo as repetidas. Os jornalistas que acompanham as viagens do presidente comentam aliviados a diferença do tratamento dado a eles desde o início do seu governo. Sala de imprensa, café, água e respeito são os itens mais festejados por todos e todas.
Mobilização Popular
A participação dos brasileiros nas viagens internacionais merecem destaque e reconhecimento. Em Paris não foi diferente. A mobilização dos militantes, simpatizantes e apoiadores do presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores levou a alegria, o afeto e a energia do povo brasileiro para a porta do suntuoso Hotel Intercontinental. A coordenação do PT Paris, que é compartilhada entre Esdras Ribeiro e Maria Luiza Lapa de Souza, não mediu esforços para garantir que tudo corresse dentro da limites da civilidade e da democracia.
Apesar de o hotel ter recebido delegações de outros países e estar protegido por um forte esquema de segurança, os brasileiros marcaram presença e cada aparição do presidente era festejada, cheia de abraços, sorrisos e emoção.
“A gente tá feliz em receber o Lula, agora podemos respirar! É um alívio!” disse uma das apoiadoras que cantava sorridente “Olê, Olê, Olá, Lula, Lula”. Lula é cidadão parisiense desde 2020 e recebeu o título da atual prefeita Anne Hidalgo, com quem também se reuniu durante os tantos encontros bilaterais que realizou.
Para a coordenadora do PT de Paris, Maria Luiza, o importante foi a participação da militância e a colaboração dos partidos políticos franceses que se envolveram com a visita do presidente. Ela destacou a parceria com La France Insoumise e a presença de Jean-Luc Mélenchon ao lado dos brasileiros/as, um fato que segundo a coordenadora, ilustra bem esta parceria.
O presidente anunciou pelo menos mais três viagens até o final desse ano e que a partir de outubro, deve descansar de viagens internacionais “para cuidar da alma”.
Fernanda Otero é jornalista morando em Dublin (Irlanda) desde 2016. Apresenta o programa Pindorama Terra Brasilis na Rádio Dublin South FM.