Lula é a alternativa de esquerda para o Brasil, mas precisa ter o povo mobilizado nas ruas

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Por Oscar de Barros, publicado em 180 Graus – 

Hoje quero dividir com a audiência do 180 Graus um texto do “meu amigo facebokeano”, Luis Felipe Miguel.




Luis Felipe nasceu no Rio de Janeiro em 1967 é doutor em ciências sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê) e edita a Revista Brasileira de Ciência Política.

É pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e vice-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica). É autor de dezenas de artigos em publicações acadêmicas e de livros.

No facebook, suas postagens são de muito equilíbrio e bom senso. Hoje, ele fala sobre as alternativas eleitorais para a esquerda brasileira. Eis o texto:

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É Lula de novo. E a força do povo?
Quase não há dúvida de que, sob as circunstâncias atuais, o candidato da esquerda brasileira, nas eleições de 2018, será Luís Inácio Lula da Silva. A única dúvida é se o golpismo terá mesmo condições de levar a farsa dos processos judiciais ao ponto de torná-lo inelegível, pagando o ônus de deslegitimar seu próprio processo eleitoral.

Com Lula no páreo, ele se torna o candidato “natural” da esquerda, por sua liderança e chance de vitória. Outros nomes que são aventados têm baixa penetração e escassas possibilidades de sucesso eleitoral. Provavelmente, surgirão candidaturas minoritárias à esquerda de Lula, motivadas pela vontade de ocupar o debate público também com posições mais extremadas, o que é legítimo e mesmo necessário. No segundo turno, porém, certamente seus eleitores orbitarão para o apoio ao ex-presidente. E as lideranças desses partidos precisarão fazer também uma opção.

Não acho razoável a postura, que vejo em alguns “radicais”, de rechaçar Lula liminarmente, por conta dos inúmeros erros que o PT cometeu para chegar ao poder e ao exercê-lo. É razoável ver as origens de alguns dos retrocessos da era Temer em ações das administrações petistas, mas isso não autoriza negar a ruptura que o golpe significou. A repressão atingiu novos patamares, o desprezo pelos direitos também. O que os governos de Lula e Dilma fizeram de melhor (mesmo que, vá lá, insuficiente), como o combate à miséria, está sendo desmontado. O golpe, ao contrário dos governos petistas, aponta para um país com crescente vulnerabilidade social extrema. E onde Lula e Dilma iam mal, Temer vai muito pior – a política indígena serve de exemplo. É possível ser muito crítico da experiência do PT no poder sem deixar de ver que o golpe marca uma era de acelerado retrocesso.

Do ponto de vista do purista, todos os pecadores são igualmente maus. Do ponto de vista do ingênuo, a confiança é aquele cristal que, uma vez quebrado, nunca se recompõe. Mas o político, ainda mais o político revolucionário, não pode ser purista nem ingênuo. Quem se deleita com a própria “radicalidade” sem se preocupar com as condições efetivas de transformação do mundo não vive no mundo da política e sim no mundo próprio do narcisismo.

Entre os candidatos competitivos para 2018, Lula é o que reúne as melhores condições para reverter o golpe. Mas isso não quer dizer que vá fazê-lo. Conforme sua candidatura se afirma, o ex-presidente terá muitos incentivos para recompor a política tradicional, nas alianças no Congresso e nas relações com a burguesia. Alguns setores do próprio PMDB já sinalizam isso. As resistências a Lula, hoje muito fortes, cederão conforme a opção de se acertar com ele se torne mais vantajosa do que a de hostilizá-lo.

Conforme afirma o dito que circula há tempos pelas redes sociais, cuja autoria não sei qual é: “A classe dominante não tem ódio, ela tem astúcia. O ódio ela terceiriza”. Uma recomposição com Lula, com o ódio terceirizado ladrando sem parar para manter o ex-presidente na defensiva, seria um acerto bem razoável para essa classe dominante.

Para evitar esse quadro, a única opção é ter pressão das ruas em favor de uma candidatura e um governo com maior compromisso popular. Lula é uma esperança de reversão do golpe se houver, nos movimentos sociais, a disposição e a força para empurrá-lo para este caminho. A estratégia que imperou sob Lula e Dilma – ficar todo mundo bem quietinho para não atrapalhar o governo que era “nosso” – já mostrou que não dá certo. Quando as manifestações de 2013 explodiram, o governo revelou que simplesmente não sabia lidar com a pressão popular. Quando precisou dessa pressão para lutar contra o golpe, em 2015 e 2016, ela não estava disponível.

Lula, de novo, mas sem a força do povo, sem a mobilização popular, não será mais do que a normalização do golpe.

PS. Para não dizer que não falei de Ciro Gomes: (a) não o vejo tendo como deslanchar numa candidatura presidencial, pelas características pessoais que o tornam muito vulnerável a ataques; (b) sem dúvida, Ciro se mostra muito combativo, mas ainda não fui convencido de que ele é de esquerda.

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