Por Adriana do Amaral, jornalista
Após a entrevista do presidente Lula na tv hegemônica, li a repercussão, em grupos de mulheres, dos elogios sobre a conduta dele, que teria prestigiado a jornalista na bancada, garantindo escuta e fala atentas. Mais uma vez eu me questionei: por que tal surpresa? Afinal as mulheres sempre tiveram protagonismo na trajetória lulista!
Lembro-me com emoção da primeira posse, quando dona Marisa Letícia caminhou ao seu lado. Aliás, ele nunca a deixou para trás em solenidades, como num legado. Antes disso, a companheira participou, discretamente, da luta operária e criação do Partido dos Trabalhadores. Foi ela que costurou a primeira bandeira vermelha e não cansou de receber a companheirada em casa.
A aniversariante de 27 de agosto, Janja, esposa atual tem perfil diferente: usa a voz, o corpo, o sorriso e sua história de mulher como militante nas ruas e nas mídias. Atenta aos detalhes, ela trouxe a jovialidade ao presidente que bebe na sua fonte. Janja também caminha ao lado, mas muitas vezes sozinha, na linha de frente.
E, vamos pensar na construção histórica do PT de Lula: Erundina e Martha e Telma prefeitas, Dilma presidenta, a desejada vice-presidenta Manuela d’Ávila, Clara Ant conselheira, a Gleisi, presidenta do PT nacional e tantas outras mulheres de luta. Em cada fala, a matriarca, dona Lindú, parece soprar seu exemplo nos ouvidos do filho: homem tem de respeitar as mulheres.
Outro episódio passado foi a exposição da sua vida privada envolvendo a sua filha e a namorada na disputa política. Lula protegeu a cria sem expor a mãe dela. Pai exemplar.
Idoso pelos padrões do Código Internacional de Doenças, nordestino de nascença, com um modelo paterno tradicional, autoritário e omisso, não deve ter sido fácil para Lula desconstruir o machismo, naturalizado em sua geração. Lula dialoga com as reivindicações feministas ao mesmo tempo que praticou e praticará modelos de políticas direcionadas às mulheres que são arrimo de famílias, mães solos e viúvas da #Covid-19.
Creio eu, não se esquecerá das mulheres LGBTQIA + e se atualizará das novas demandas sociais e políticas direcionadas ao universo feminino.
Ao escrever este texto, impossível não lembrar da foto de Ricardo Stuckert, onde ele abraça a anciã. Alguma dúvida que Lula é feminista?
