Por Ulisses Capozzoli, jornalista, no Facebook –
Cientistas políticos, perdoem minha simplificação, são aqueles que falam o que alguém razoavelmente informado já sabe. São incapazes de prever o futuro, limitação de cada um de nós, e o que podem fazer é expandir conceitos ligados à história pessoal de cada um. Ao contrário, por exemplo da física, ao menos da física clássica, capaz de certa previsão do futuro por efeito de leis naturais, as humanidades não dispõem desse rigor e isso significa dizer que boa parte do que começam a dizer os tais cientistas políticos é pura bobagem e pretensão.
Li há pouco alguns deles falando de “retorno da polarização política”, como se fosse algo profundamente indesejável. Indesejável por que? As coisas todas estão andando bem, o pais está no rumo promissor e há perspectiva de vida mais razoável para o conjunto da população que possa ser ameaçada pela libertação de Luís Inácio Lula da Silva?
Até as pedras sabem que não. Então, que venha a polarização, com o custo que tiver, desde que nos permita sair da armadilha imobilizadora, dos discursos falaciosos que rompem a cada dia os elos da solidariedade social. Ou do que restou dela.
Um espectro que reúne de conservadores a reacionários e mal intencionados ensaia um canto de falsa indignação, porque, em muitos casos, legislam em causa própria, em relação à libertação de Lula.
O STF, ao menos parte de seus membros, tem consciência clara de que vergou suas decisões à pressão política que precedeu e se seguiu ao golpe de 2016, com participação entusiástica da mídia que alguns confundem com “imprensa livre”, equívoco elementar.
Não fosse pelo Intercept de Glenn Greenwald, na prática do jornalismo como deve ser, e Lula ainda estaria preso, sem espaço político para se defender do conjunto de armadilhas montadas por Moro & Cia.
A parcela progressista da sociedade comemora, com justiça cristalina, a liberação de Lula que ainda terá percalços pela frente.
Reacionários, no Congresso, falam em mudar a Constituição para assegurar suas pretensões senhoriais. Numa república bananeira, a carta magna quase sempre é um mero objeto de decoração, ainda que se trombeteie o contrário.
Mas o fato é que, Lula livre, é uma poderosa injeção de oxigênio fresco em um ambiente em putrefação. O oxigênio é tóxico para organismos patogênicos e vital para a vida animal, para a respiração atmosférica, e isso inclui todos os mamíferos, a classe de viventes de que somos parte.
E isso significa que, como oxigênio que nos falta, Lula é vital e certamente mudará de fato o ambiente político-social.
Claro que as coisas não estarão resolvidas de uma hora para outra. Mas, com Lula livre, terminou a espera de que tudo se resolvesse por magia, com a chuva que cai do céu.
A reação internacional ao golpe de 2016, o mergulho do Brasil nas trevas do obscurantismo, a queda da Direita na Argentina, a perspectiva de um governo civilizado no Uruguai e a explosão de descontentamento no Chile, o modelo de Paraíso para Guedes/Bolsonaro, de muitas maneiras afetaram a decisão do STF e ela era a única que, de imediato, permitiria uma mudança desejável de rumos e perspectivas nacionais.
O STF tomou a decisão que tomou por boas razões, obviamente. Como diria a mais irreverente das minhas três avós. “Quem tem fiofó tem medo”.
Lula livre, perspectiva de retomada do caminho da dignidade social, da contestação do embuste, da rearticulação de movimentos populares em favor dos legítimos direitos, sem ameaça de fascistoides, milicianos degenerados no poder ou muito próximos dele.
Oxigênio, esperança e determinação para um caminho altivo e necessário, com a completa repulsa da servidão/humilhação.
O Brasil supera a impotência da genuflexão.
Imagem: PT.
