Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado
Libertar Lula e derrotar a chacina social na Previdência são prioridades, quase pautas únicas. Não temos direito de desistir!
Antes até do que o previsto pela lógica, a luta política no Brasil entra agora em hora decisiva. A última possibilidade de libertar Lula do cárcere em Curitiba será definida nos próximos dias e a reforma da Previdência já tramitará na Câmara e começa, enfim, a ser assunto do cotidiano.
São duas batalhas que politicamente terão que ser travadas juntas, até porque o ex-presidente da República é o nome que melhor encarna a negação da retirada de direitos sociais dos trabalhadores, personificada pelo esbulho nas aposentadorias.
Lula, não nos enganemos, só poderá ser libertado se houve uma ampla e massiva campanha no Brasil e no Exterior. Seu julgamento e posterior prisão não tiveram fundamento jurídico algum. É desde sempre uma prisão política, primeiro para impedi-lo de vencer mais uma eleição presidencial e, depois, para tentar apagar a influência do maior líder popular do país.
A nova fase da campanha “Lula Livre” é uma cartada indispensável. Não haverá simulacro de Democracia no Brasil com Lula preso. E é justamente o peso dele que é temido pelos que querem roubar a aposentadoria dos trabalhadores, principalmente dos pobres.
Assim como no caso de Lula, não devemos alimentar ilusão que os parlamentares barrarão a reforma da Previdência sem pressão popular. Apesar de todo jogo de cena sobre a “nova política”, o governo ainda tem milhares de cargos e verbas para vencer qualquer prurido ético de deputados e senadores gulosos.
A elite econômica e o mercado exigem que os trabalhadores paguem a conta da crise e se depender deles, os donos do dinheiro e congressistas, o pescoço dos pobres será servido sob o discurso hipócrita de que o Brasil quebrará se o chicote não for acionado contra os trabalhadores.
Mas não será um passeio. Dentre todas as mudanças que Temer e Bolsonaro planejaram, a que mexe com a aposentadoria é a que encontra mais objeção no povo. Apesar do tsunami do noticiário favorável à Reforma, já se pode ouvir ouvir na rua um sentimento de temor do que ocorrerá se o plano cruel de Paulo Guedes for aprovado.
A aposentadoria é um tema caro aos brasileiros. Em muitas pequenas cidades do Nordeste, por exemplo, é aquele dinheiro miúdo que movimenta o comércio e garante a sobrevivência de muitos brasileiros. E mesmo entre muitos que votaram em Bolsonaro a ideia de mudanças não está descendo bem.
O fascista, aliás, está dando sua involuntária contribuição para dificultar a aprovação das mudanças previdenciárias. Sua impressionante queda de popularidade com menos de três meses no cargo, período em que tradicionalmente a população dá um generoso crédito de boa vontade aos novos governantes, mostra que as inacreditáveis trapalhadas e as loucuras medievais em Ministérios começam a quebrar o cristal da extrema-direita.
Fissuras na elite (loucos do Itamaraty x ruralistas, por exemplo) e uma indisfarçável torcida de milicos para dar a Presidência ao igualmente ogro general Mourão estão escancaradas. É verdade que todos eles tendem a se unir em torno da afanada nas aposentadorias, mas os desentendimentos internos podem corroer em a lguma medida a atuação unitária.
Há um evidente clima de desconfiança sobre o governo miliciano. Se as oposições forem capazes de levar gente às ruas para tirar a cereja do bolo da direita, muita coisa pode mudar neste Brasil já imprevisível. Existe, claro, o terrível componente “se as oposições,,,”
A nefanda reforma trabalhista foi aprovada debaixo de quase nenhuma movimentação social contrária, é verdade. Mas até o fracasso do engodo em que enveloparam aqueles mudanças ajuda a ser menos difícil apontar que um novo assalto está em andamento contra direitos civilizatórios de décadas. E, acima de tudo, a aposentadoria é o “bem” que mais impacta na vida e no planejamento de futuro dos que trabalham. Resumindo, é uma causa “mais fácil” de ser defendida.
Assim, o campo progressista não terá direito ao tédio nas próximas semanas. Libertar Lula e derrotar a chacina social na Previdência são prioridades, quase pautas únicas. Não temos direito de desistir!