Por René Ruschel, jornalista, Bem Blogado
Apesar da bronca de setores petista, segundo a jornalista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo, o acordo entre Lula e Alckmin para as eleições de 2022 está sacramentado. Nenhuma novidade. O ex-tucano já deixou o PSDB e deve se filiar ao PSB para ser candidato à vice-presidente na chapa encabeçada pelo petista.
O anúncio oficial não deve acontecer agora. Por enquanto apenas encontros políticos, comemorações de fim de ano, como o jantar promovido pelo grupo Prerrogativas, formado por advogados, juízes, promotores e defensores públicos, que acontece neste domingo, 19, em São Paulo, com a presença de ambos.
A reação da ala mais a esquerda do PT foi instantânea. Alckmin sempre foi um adversário histórico do partido. Disputou à presidência da República em duas oportunidades, sendo derrotado em ambas.
Dentre os argumentos, argui-se que o ex-tucano não somaria em termos de votos e o PT “não precisa de Alckmin para vencer as eleições”.
Num País onde a síndrome do vice ronda as estratégias políticas, outros atribuem a própria idade de Lula: 76 anos. No sonho dos próximos 8 anos de poder, ele terminaria seu mandato com 85 anos. Qualquer fatalidade, a presidência cairia no colo de Alckmin.
Embora o projeto seja a filiação ao PSB, é muito difícil descolar sua imagem do PSDB. Foram 33 anos de militância, tendo governado São Paulo em três oportunidades. Apoiou Serra e Aécio. Apoiou Dória e foi por ele traído.
No caso do impeachment da presidente Dilma, Alckmin tentou segurar o ímpeto da bancada tucana, segundo noticias da época, mas foi conivente com a maioria e acabou aceitando a decisão do partido.
O simbolismo deste adesismo está estampado em uma imagem que viralizou nas redes sociais, onde aparece ao lado de Michel Temer, já presidente da República, secundado por Aécio Neves e Sérgio Moro aos risos e gargalhadas. Era a cara de um Brasil que prenunciava o caos.
Acontece que Lula, um gênio político, enxerga mais longe. Vencer as eleições é apenas uma etapa. Uma condição necessária, porém não suficiente para a governabilidade do País. O ex-operário sabe que vai enfrentar uma verdadeira batalha. Queiram ou não os companheiros, o antipetismo bateu forte na consciência dos brasileiros e o ex-capitão de plantão no Planalto soube aproveitar para vencer Fernando Haddad, em 2018.
Além do jogo sujo que ainda virá, há uma “elite do atraso” sem qualquer compromisso social que terá papel fundamental na disputa.
Lula quer ser Lula e a terceira via. Soube fazer a leitura e busca em Alckmin o José de Alencar, mineiro vice nas duas eleições. Alckmin será o algodão entre os cristais.
Em política, o ideal não existe. Trata-se de um jogo pragmático, com muitos interesses, tanto dos que governam como dos governados. Lula pode até vencer com os votos da esquerda e dos descontentes, que hoje é maioria, mas teria dificuldades para governar.
O esforço seria em vão e o país correria o risco de mergulhar noutro caos, desta vez sem esperança ou opção de saída. Aí, o risco seria ainda maior que o drama que vivemos no momento.
Jair Messias, o ignóbil, comandou um transatlântico ao alto mar e o deixou à deriva, sem rumo, em plena tempestade.
Sua incompetência é absoluta. Seu governo derrete. A pandemia serve como retrato 3×4 deste caos. Quase 620 mil pessoas morreram por falta de vacinas, por omissão do governo, por incompetência, enquanto nos corredores do Ministério da Saúde se negociava propina.
Lula lá se tornou a única esperança neste momento. O xadrez político exige racionalidade, bom senso, inteligência e habilidade. Mas é preciso entender a realidade e fazer desta eleição a chave da transformação.
Na história, temos exemplos clássicos de momentos onde os adversários se unem para combater o mal maior. A arte da política está, justamente, em saber discernir entre o possível e o imaginável.
Foto: Ricardo Stukert