Lula, Maduro e Democracia

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Por onde andavam os defensores da democracia venezuelana quando a nossa própria democracia estava sob ataque? Onde estavam eles quando a presidente Dilma Rousseff foi golpeada sem ter cometido qualquer crime? Um golpe que jogou o Brasil em grave crise institucional, levando à prisão de Lula por 580 dias e à eleição de um desqualificado que esfacelou o país, de todas as formas.

Por Rogério Marques, conselheiro da ABI, no Quarentena News, compartilhado do Portal da ABI




Está certo o presidente Lula em receber seu colega Nicolás Maduro para a cúpula de líderes da América do Sul. É da maior importância romper o isolamento imposto à Venezuela por interesses que não são nossos. Sim, Maduro tem cometido erros na condução da política econômica, o que provocou o aumento da insatisfação popular e o crescimento da oposição no parlamento. Sua base de apoio se reduziu e ficou muito alicerçada no Judiciário e nas Forças Armadas. Mas o que está em jogo é bem mais do que isso.

O ex-presidente Hugo Chávez (1954-2013) e o atual Nicolás Maduro ousaram fazer reformas para tornar socialmente mais justa uma nação eternamente dividida entre ricos e pobres. Ousaram defender o patrimônio nacional, alvo da cobiça dos Estados Unidos, que não admitem perder o controle de um país que consideram seu quintal. As maiores reservas de petróleo do mundo estão na Venezuela.

Nesse enfrentamento, Washington primeiro respondeu com um apoio mal disfarçado a uma tentativa de golpe daqueles tradicionais, que nós aqui no Brasil conhecemos bem. No dia 11 de abril de 2002, militares e empresários da direita venezuelana se uniram para tirar do poder o presidente constitucional Hugo Chávez. Anularam a Constituição e prenderam o presidente, mas não deu certo. Seus apoiadores foram às ruas em massa exigir sua libertação e dois dias depois, com respaldo de setores legalistas das Forças Armadas, Chávez foi libertado e voltou ao poder fortalecido.

Os Estados Unidos nunca desistiram da empreitada, por interesses geopolíticos. No governo de Nicolás Maduro, a pretexto de defender a democracia, que eles próprios tentaram sabotar em abril de 2002, lançaram mão de bloqueios para estrangular a economia do país e passaram a reconhecer o autoproclamado “presidente” Juan Guaidó.

Assim fizeram também políticos e empresários venezuelanos golpistas, entre eles grandes empresários da mídia. Esse filme é reprise do que já vimos, com algumas mudanças no roteiro, em países do continente como Brasil, Chile, Uruguai, Argentina, Paraguai, Guatemala, Honduras e outros mundo afora, que sofreram massacres, como Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão.

De todas as formas de ataques à Venezuela, a mais cruel, com certeza, é o bloqueio econômico, que tem provocado crise humanitária, insatisfação popular e levado multidões a deixar o país em busca de melhores condições de vida. Está certo o presidente Lula em tentar romper o cerco desumano, endossado pelo governo anterior de Jair Messias Bolsonaro.

Num clima de eterna tensão, que se arrasta há duas décadas, com tentativas de golpes e sabotagens externas e internas, a Venezuela tem a democracia possível para tentar mudar uma estrutura social perversa, injusta, que privilegia a concentração de renda nas mãos de poucos, em um país com grandes riquezas naturais. Uma estrutura que já dura séculos e que alguns desejam que seja eterna.

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