Professor Wilson Gomes, UFBA-Comunicação –
Lula é preso. O Antagonista mancheteou “perdeu!”. Ouço fogos e panelas (elas voltaram) no meu bairro.
Sabem de nada, inocentes!
Primeiro, porque como bem lembrou Sérgio Braga, o cárcere nunca significou fim, perda ou morte para a esquerda. Antes, sempre representou batismo de sangue e fogo, coerência, autenticidade. Martírio. A esquerda é uma religião civil, não se esqueçam.
Segundo, Lula controlou com apuro a iconografia da sua prisão. “Foi arrancado dos braços do povo pela Injustiça e pelo Arbítrio”. Não importa o que eu ou Moro pensemos sobre sua inocência, esta é a narrativa que ele conseguiu manter válida e sólida apesar de tudo. Agora ele é Gramsci no cárcere fascista, é Mandela, é Mahatma Gandhi, é quem ele quiser ser. No cárcere, Lula se reconcilia, enfim, com o imaginário heroico da esquerda autêntica e, como ideia ou como pessoa, um dia voltará para disputar e vencer.
A dramaturgia da prisão de Lula possivelmente transformou uma previsível morte política em uma vitória impressionante. Os que comemoram as algemas não fazem a menor ideia do que realmente pode estar acontecendo.