Lula olha para frente, consciente da ingente tarefa que lhe cabe em 2023, e entende mandatório a ampliação do arco político, incorporando o Centro, especialmente o PSDB histórico e outros mais, todos compromissados com um projeto econômico salvacionista e de resgate civilizatório
Por Helcio Gadret, compartilhado do Blog do Trajano
A se considerar as últimas pesquisas, Lula irá para o segundo turno com expressiva vantagem sobre o adversário, provavelmente Jair Bolsonaro, ou possivelmente será eleito em 2 de outubro.
Esta última hipótese se mostra viável a permanecerem os esquálidos percentuais dos candidatos da chamada terceira via e o comportamento idiotizado do capitão, razão maior da desidratação de seus índices de aprovação.
Entretanto, como eleição se ganha ao final da apuração, é recomendável ao PT nada de soberba, pose de vencedor e atitudes arrogantes com potenciais parceiros. Temperança e comedimento nesta hora permitirá agregar no primeiro turno correntes de esquerda e, se isso não bastar na primeira rodada, juntar na segunda também forças de centro e até mesmo a centro-direita democrática; todos empenhados em derrotar o atraso, o negacionismo e o golpismo.
Em abril do ano passado, neste blog, escrevi artigo, Por um novo Lula”. Conclamava o “Sapo barbudo”, que Brizola mandou engolir, e “o Lulinha paz e amor”, que arrebatou a esperança do “povo no poder”, a se renovarem em um personagem com pose, verbo e estratégia política que resgatem a confiança do povo brasileiro na esquerda democrática, abalada por episódios conhecidos, os mais dramáticos o mensalão, o petrolão e a gestão Dilma/Mantega.
A “metamorfose ambulante”, como ele mesmo se denomina, não negou o jocoso epíteto e, em jogada digna dos melhores “armadores de meio-campo”, dominou o centro do gramado político ao anunciar Geraldo Alckmin como vice.
Sua perspicácia política, inegável, percebe que iniciar em 2023 a reconstrução do país, destruído pela malversação administrativa, de valores, de prioridades, empreendida com competência por esses tontos, não será nada fácil. O fracasso na economia transformou o outrora poderoso Posto Ipiranga em mera estação de abastecimento. O Centrão, tão criticado na campanha (lembram-se do general: “Se gritar pega Centrão não fica um meu irmão”?), é dono do orçamento e define as prioridades mais esdrúxulas, distantes da educação, cultura e pesquisa científica.
O crescimento do PIB em 2021 apenas compensará o desastre de 2020, as previsões para 2022 oscilam entre 0,5% negativo e 0,5 positivo, o FMI reduziu para 0,3%. Privatizações a passos de cágado, ex-Correios, passos tímidos nos marcos regulatórios, ex-ferrovias, passos retrógados nas reformas tributária e administrativa e passos largos para transformar a Amazônia em pira ardente.
Lula olha para frente, consciente da ingente tarefa que lhe cabe em 2023, e entende mandatório a ampliação do arco político, incorporando o Centro, especialmente o PSDB histórico e outros mais, todos compromissados com um projeto econômico salvacionista e de resgate civilizatório.
Lula olha para frente e sabe que antes há que ganhar a eleição. Por isso, Geraldo Alckmin. “Não terei nenhum problema em fazer chapa com ele para ganhar as eleições e governar.” Só assim Luiz Inácio será candidato. E depois de eleito com eles governar. Por isso, as conversas com Fernando Henrique, com Tasso Jereissati, com Aluízio Nunes Ferreira para dar partida à incorporação de social-democratas e progressistas a um governo de quase salvação nacional.
A intensificação das críticas vindas de alas da esquerda não assusta. O que Boulos, Rui Falcão e os românticos, puristas, farão? O esperneio é livre e ficará circunscrito aos bolsões sinceros, sectários e, por consequência equivocados. Também não contribui a sra. Gleise Hoffmann doutrinar, valente, ameaçando o “mercado”, a “Faria Lima”, a reforma trabalhista, o teto de gastos, discursos “mimimis” infantis. Derrotar a praga daninha que se alastrou no país é preciso e é prioritário. “Espero que o PT compreenda a necessidade de fazer esta aliança”, conclamou o Lula pré-candidato. E acrescento: que se construa o pacto antes que presenciemos a destruição das instituições republicanas que ainda resistem.
O titular da Casa Civil intitulou-se um múltiplo equipamento do presidente Jair. Além de ministro, é amortecedor e para-raios. Chefão do chamado Centro Grande, pontifica e exerce poder de fato na gestão orçamentária. Conclamou, em recente artigo, os eleitores brasileiros: “Na eleição, olhe para cima: pense no dia seguinte”. E desfiou uma série de críticas às gestões petistas, centrando-as na de Dilma Rousseff, a “impaciente para ouvir piadas já conhecidas”. Metido a ladino, porém apenas atoleimado, omite as conquistas dos governos Lula, especialmente na redução da pobreza. Na defesa do seu governo, transfere as culpas à pandemia. Julgar-se mais esperto que todos é próprio dos basbaques. O eleitor não é otário e está seguro de que os custos pandêmicos foram agravados pela gestão temerária na Saúde do “um manda e outro obedece”, sucedido pelo inusitado Queiroga, o ex-médico.
Melhor faria o articulista, porta-voz do Centrão, se olhasse para dentro de seu governo desastroso.
Lula já está olhando para frente; e o eleitor patriota, para o futuro do Brasil.