O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retoma com força total sua agenda internacional nesta semana, com dois encontros de peso no tabuleiro geopolítico: Vladimir Putin, em Moscou, e Xi Jinping, em Pequim.
Por Esmael Morais, compartilhado de seu Blog
Em tempos de tensões crescentes entre potências e realinhamentos globais, Lula pousa na Rússia a convite de Putin para celebrar os 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial — um dos feriados mais simbólicos do país, celebrado com um desfile militar em 9 de maio. O gesto reforça laços históricos e sinaliza uma tentativa de reposicionar o Brasil como interlocutor respeitável em múltiplos tabuleiros.
Entre os dias 8 e 10 de maio, Lula e Putin têm uma reunião bilateral programada, enquanto tanques desfilam e aviões cortam o céu de Moscou.
Janja chega antes à Rússia e foca na diplomacia cultural

Quem desembarca primeiro na capital russa é a primeira-dama Janja da Silva. Em uma agenda paralela e complementar à de Lula, ela prioriza áreas como educação, cultura e combate à fome — pilares da “Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza”, promovida por ela e pelo presidente no âmbito do G20.
Janja visita a histórica Biblioteca de Literatura Estrangeira, dialoga com estudantes russos, participa de seminários na Universidade HSE e percorre marcos da cultura russa, como o Teatro Bolshoi e o Museu Hermitage. A programação inclui ainda um giro por São Petersburgo, onde ela assiste ao balé “Lago dos Cisnes” no icônico Teatro Mariinsky.
Rota de Lula segue para a China e inclui cúpula com a Celac
Após a Rússia, o petista embarca rumo à China para compromissos nos dias 12 e 13 de maio. Desta vez, o palco será a Cúpula entre a China e os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). A reunião com Xi Jinping está marcada em meio ao acirramento da guerra comercial com os Estados Unidos — um tema que, embora não esteja na pauta oficial, paira como pano de fundo em todas as conversas multilaterais.
Lula e Xi já se encontraram diversas vezes nos últimos anos, incluindo a visita do brasileiro a Pequim em 2023 e a ida do líder chinês a Brasília meses depois. Essa constância revela uma aposta mútua na construção de uma parceria estratégica, capaz de fortalecer o Sul Global em contraponto à hegemonia anglo-americana.
Diplomacia multilateral, Brics e recados ao Ocidente
A viagem de Lula deve ser lida como um esforço calculado de reposicionamento internacional do Brasil. O país volta a demonstrar protagonismo em temas como multipolaridade, integração latino-americana e combate à desigualdade global. E faz isso dialogando diretamente com líderes de duas potências — ambas em lados opostos da mesa de negociações com o Ocidente.
Não por acaso, a visita ocorre no rastro de movimentações no Brics, grupo que agora conta com novos integrantes e busca projetar alternativas ao dólar, ao FMI e à velha ordem imposta pelas potências coloniais do século passado.
Janela geopolítica e riscos diplomáticos

O gesto de visitar Putin em plena guerra da Ucrânia, ainda que em tom cerimonial, pode gerar críticas de aliados ocidentais. O Palácio do Planalto, porém, aposta no equilíbrio: Lula condena a guerra, mas recusa sanções e mantém aberta a porta do diálogo.
Com Xi, o cuidado é semelhante. O Brasil busca ampliar investimentos e exportações, mas sem comprar briga direta com Washington.
É nesse fino fio da diplomacia que Lula caminha. Nem neutro, nem alinhado. Apenas… brasileiro.