Por Carlos Eduardo Alves, jornalista
Muita coisa ainda pode acontecer nas articulações, mas se pode dizer que PSOL e PC do B já estiveram mais perto do que hoje do palanque de Lula em 2022.
Estilo Jack: já está claro que Lula tenta montar uma rede de apoio não restrita somente ao campo de esquerda. O episódio Alckmin revela não a preferência única pelo ex-governador de SP, mas acima de tudo a sinalização de que o ex-presidente entende que para vencer e, depois, governar e reconstruir o que sobrar de Brasil no pós genocida vai precisar ampliar a base de apoio, eleitoral e política.
Certo ou errado, o post não vai entrar nessa discussão. Apenas relata o que rola. E essa disposição de alargar o espectro tende provavelmente a encorpar a ala do PSOL que desde sempre foi contra a coligação com o PT no primeiro turno.
Fornece o discurso para o pessoal do PSOL que é, quase que por princípio, antipetista, aí incluindo-se desde correntes marcadamente socialistas até udenistas de esquerda, como a lavajatista Luciana Genro.
O imbróglio da sucessão estadual paulista é mais um nó difícil de desatar. O PT, amparado nas taxas maiores de Haddad nas pesquisas, não abre mão da candidatura do ex-prefeito paulistano, e o PSOL, acreditando que Boulos pode repetir o fenômeno de 2020, também não.
Passemos ao PC do B. É evidente que a aliança tradicional com Lula conta muito a favor do ex-presidente. Existe, porém, um forte sentimento no PC do B de que é necessário se afastar do PT, por razões que não serão abordadas aqui. Essa ala é tão forte que era claramente favorável a uma aliança com Ciro Gomes antes da restituição dos direitos políticos e eleitorais de Lula.
Com o furacão Lula de volta, os ciristas do PC do B se recolheram um pouco momentaneamente, mas permanece vivo o pensamento contra a hegemonia petista no sempre pragmático deputado Orlando Silva, por exemplo. Irrigou uma espécie de ressentimento à saída de Flávio Dino para o PSB, atribuída por muitos comunistas a uma jogada patrocinada por Lula.
O que deve pesar muito sobre a decisão final do PC do B é o cálculo sobre qual melhor caminho a tomar para enfrentar o fantasma da cláusula de barreira, cada vez mais próximo da legenda histórica do campo popular.
E o que significaria se, no final, PSOL e PC do B decidirem por estradas separadas de Lula no primeiro turno? Politicamente, é sem dúvida ruim para o petista, que deixa de ser o único representante das esquerdas e, assim, deve também dar maior protagonismo ao sempre inconfiável PSB, que reúne muita gente boa, mas também é abrigo de raposas da velha direita em muitos Estados, principalmente no importante SP.
Eleitoralmente, contudo, a falta de endosso de PSOL e PC do B é um prejuízo próximo de zero. Uma candidatura própria do PSOL pode, dependendo da conjuntura, atingir em determinado momento até uns 3%, mas será reduzida a pó na dia da eleição, pulverizada pelo voto útil e força de atração eleitoral de Lula. A briga será terminar com 1%.
E o PC do B, na hipótese ainda improvável de ir de Ciro, talvez ajude o pedetista a superar a barreira dos dois dígitos e se aproximar dos perenes 12%, não mais do que isso.
É a situação de hoje. Nos bastidores se está jogando 2022. O fim de ano se aproxima, a pausa do Natal e festas que não houve em 2020 deve frear um pouco as articulações, mas no máximo em fevereiro os dados serão jogados. Falta pouco tempo e a esquerda não está tão em paz como parece.