Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Escolha bem seus parlamentares e vá para a rua, diga que ele vai ajudar Lula. Basta da maioria picareta no Congresso!
Estamos no Brasil, logo é sempre arriscado descartar o muito imprevisto, mas a lógica política e as pesquisas indicam que Luís Inácio Lula da Silva será o próximo presidente da República. A dúvida hoje é se a vitória virá no primeiro ou no segundo turno. Haverá tentativa de golpe do genocida e seus generais fascistas, mas o isolamento imposto pela sociedade e nos meios internacionais derrotará a maluquice. Mas e depois do triunfo?
Quem viu os pronunciamentos de Lula nos últimos dias deve ter percebido que ele está abrindo o jogo sobre a difícil situação econômica que herdará. “Estamos muito pior do que em 2003”, explicitou Lula, mais de uma vez. É verdade. Além da destruição de valores civilizatórios mínimos que o bolsonarismo promoveu, a miséria voltou com força.
O emprego foi destroçado e substituído por uma precarização que deixou os trabalhadores sem direitos e com salários depreciados. Junto, a fome e as filas por ossos e carcaças.
Lula sabe que combater o flagelo dos estômagos vazios será tarefa primordial. Para isso, provavelmente terá que mexer na tributação dos muitos ricos e que pouco pagam.
Um governo eleito pode muito no início do mandato, mas pode menos se sua base parlamentar for pequena. No caso específico brasileiro, um complicador imenso surgiu na última legislatura.
Para comprar um seguro contra o impeachment, Bolsonaro liberou à base corrupta na Câmera e no Senado a excrescência do “Orçamento Secreto”, que em tempos de penúria como os atuais sequestra o pouco que o Executivo tem para executar políticas públicas abrangentes de inclusão.
Lula, corajosamente, tem apontado o absurdo do dinheiro sigiloso na mão dos picaretas. Além de incorreto moralmente, o tal “Orçamento Secreto” deve engraxar a reeleição de muitos da direita corrupta, num pleito desigual contra os concorrentes, principalmente de origem popular.
Não será fácil o embate para acabar com isso. A safadeza, e não há outro termo mais ameno para definir o que Bolsonaro e Lira estão fazendo, será de difícil enfrentamento se a corrente progressista não crescer muito na próxima legislatura.
Entre as várias especificidades da eleição de 2 de outubro próximo, a importância da escolha de deputados e senadores está dada. Mais do que em outras disputas em que não aparecia o “Orçamento Secreto”.
É imprescindível recolocar Lula na Presidência, mas acompanhado de parlamentares do campo progressista. Paulo Guedes e sua política de higienismo social quebraram o País. Saúde, Educação e outras áreas importantes foram sucateadas.
Por mais que exista no governo Lula a inversão de prioridades, não haverá, ao menos no primeiro ano da nova administração, recurso suficiente para atender a tanta demanda reprimida.
Também por isso, é necessário que Lula não seja amarrado pelos corruptos clientelistas do Congresso. Lula assumirá o Planalto com enorme expectativa dos miseráveis, principalmente.
Será combatido, de início talvez dissimuladamente, pela elite econômica e vigiado sem clemência por uma mídia hostil. Não pode ter o Parlamento como mais uma barreira para atrapalhar e inviabilizar seu governo.
Enfim, é preciso que as campanhas não se restrinjam aos nomes dos candidatos a presidente da República e governadores. Muito mais do que antes, é preciso eleger senadores e deputados comprometidos em realmente mudar o Brasil.
Escolha bem seus parlamentares e vá para a rua, diga que ele vai ajudar Lula. Basta da maioria picareta no Congresso!
Foto: Ricardo Stuckert