Por Camilo Vannuchi, no Facebook
– Pergunta se você ia me encontrar em casa a esta hora dois anos atrás. Nunca!
Foi assim que Vavá me recebeu em sua casa em meados de 2017. Era pouco mais de 10h da manhã e ele estava do mesmo jeito: sentado no sofá da sala, encostado em dois travesseiros e com um edredon jogado sobre as pernas.
– Estaria na rua?
– Claro!
Vavá se ressentia em razão da perna esquerda, amputada cerca de um ano antes. Aproximando-se dos 80 anos, fizera uma viagem extraordinária à China, da qual ainda guardava recordações gastronômicas, e, pouco depois de voltar, o susto. Com a perna, foi-se parte do pouco conforto que tinha.
Morador de um sobrado espartano num bairro de origem operária de São Bernardo do Campo, a Paulicéia, Vavá foi condenado a dormir no sofá da sala. Por isso me aguardava entre travesseiros e edredom.
A TV ligada e dois ou três retratos compunham a decoração de seu território. Ao quarto, no andar de cima, nunca mais voltara.
– Teu irmão me contou que você agora dorme no sofá. Tinha de tentar vender esta casa e ir para uma casa térrea.
– Muito difícil. Não acha. E se achar, o valor dessa aqui não paga. Vou ficando por aqui mesmo.
Do encontro com Lula, coisa de dois meses antes, guardara a preocupação sincera com o irmão. Ele queria muito ajudar. “Preciso arrumar uma casa pra Vavá”, comentou, cinco semanas após a morte de Dona Marisa.
Ao velório, Vavá comparecera de cadeira de rodas. Também de cadeira de rodas iria, um ano depois, à cerimônia em homenagem à cunhada celebrada por Dom Angélico Sândalo Bernardino no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Na ocasião, Vavá permaneceu ali quase o dia todo, ansioso, irritado, não muito diferente da multidão que cercava o prédio à espera de um milagre. Naquela tarde, o milagre não se aproximou do sindicato. Tampouco a polícia. Foi o próprio Lula que, ao final do dia, caminhou até o carro e seguiu pela Anchieta velha de guerra rumo ao aeroporto e a Curitiba. Vavá voltou para seu sofá na Paulicéia.
Desde o ano passado, Vavá disputava com um câncer, ora no palitinho, ora na queda de braço. Dessa vez, não foi páreo para o adversário. Seu corpo será sepultado nesta quarta-feira (30/1), às 13h, no cemitério da Paulicéia, em São Bernardo.
O irmão famoso reivindicou na Justiça o direito de estar presente, com base no artigo 120 da Lei de Execução Penal.
O pedido foi negado pelo Delegado Luciano Flores de Lima, o mesmo da condução coercitiva, superintendente regional da Polícia Federal no Paraná.
Obs.: Título do Bem Blogado