Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Lula é perfeito? Não, embora alguns achem. É no entanto o maior líder popular da História brasileira. A sua grandeza criou até no setor progressista um vazio de possíveis novas lideranças nacionais. As recentes eleições municipais tornaram mais evidente o que muitos já sabiam: o único nome que em 2026 poderá livrar o Brasil do desastre será novamente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em Política somos condenados à derrotas se ignorarmos o tamanho do inimigo. E não dá para brigar com a realidade: a esquerda sofreu uma derrota imensa na eleição municipal. Tem gente que não gosta da palavra, mas foi uma surra de urna. Algumas vitórias importantes como Fortaleza e Juiz de Fora, mas no conjunto o PT e seus aliados ficaram muito aquém de quem representou o governo federal de turno com resultados econômicos excelentes. É fato, não opinião.
Até em regiões que sempre foram trincheira da esquerda, a extrema-direita avançou. As razões? Muito deve ser creditada à força das emendas parlamentares, que transferiu do Executivo federal o poder de impulsionar políticas públicas para mãos ligeiras de deputados e senadores que se transformaram em “vereadores” federais. Não só isso explica o sucesso eleitoral dos reacionários, mas qualquer discussão honesta intelectualmente tem que começar daí.
É verdade, por outro lado, que a disputa municipal não está ligada ao resultado da eleição presidencial seguinte. A História recente prova isso. Lula e Dilma chegaram ao Palácio do Planalto sem nunca terem a maioria dos prefeitos. Como diria aquele sábio filósofo do boteco mais próximo, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Existe a necessidade, no campo progressista, de tentar entender as mudanças que ocorreram no mundo nos últimos 20 anos principalmente e a partir dessa reflexão estabelecer diálogo propositivo com as atuais aspirações da classe trabalhadora que, lamente-se informar aos ortodoxos, não tem mais as perspectivas de seus pais. Mas não cabe discussão que só o prestígio de Lula entre os pobres poderá evitar uma catástrofe social/eleitoral em 2026.
Sim, é verdade que Lula estará com 81 anos na próxima corrida presidencial e não se sabe se terá a mesma disposição para correr o País, encarar a infinidade de compromissos que uma campanha nacional demanda. É sim pedir demais e ele tem todas as condições morais e pessoais para recusar a tarefa. Aí será o caos.
Não há hoje nenhum nome no campo popular ou mesmo de centro-esquerda capaz de vencer o vento que sopra hoje a favor da direitona tradicional ou dos ratos da extrema-direita. Não se constrói uma candidatura nacional em dois anos, tenhamos ciência disso. Aliás, a eleição de 2022 só foi tirada de Bolsonaro em razão de o antagonista ser Lula. Qualquer outro teria perdido.
Assim como Lula impôs em 2022 o nome de Alckmin como vice, desprezando o beicinho de muitos companheiros, agora mais do que antes será ele que estabelecerá os requisitos para aceitar a nova empreitada. É bom ter juízo.
Tem muita gente palpitando, através do anonimato reverberado pela mídia, sobre o que Lula deve fazer na metade final da atual administração. O homem pode se cansar da brincadeira, com todo direito.
Aceitar uma nova campanha aos 81 anos, arriscando na urna o julgamento de três governos exitosos, não é uma decisão fácil. Não irritem o homem. Sem ele, infelizmente perderemos em 2026 e os pobres voltarão ao inferno garantido por direita e extrema-direita.