Lutar contra a barbárie é uma tarefa gigantesca que a História nos reservou

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado

Depois que o segundo turno terminar, com qualquer resultado o Brasil não será mais o mesmo. O recado
saído das urnas de 7 de outubro na eleição presidencial e nas estaduais guiará um obrigatório reordenamento
entre todas as forças políticas, incluindo-se aí,obrigatoriamente é claro, as de esquerda. Mas só
depois do segundo turno.




É até criminoso acender o fósforo da discussão do futuro antes de deter a maior
ameaça à Democracia desde o fim da ditadura militar. Sim, uma eventual vitória eleitoral do fascismo se
tornará um golpe maior até do que aquele que vitimou Dilma. Paradoxalmente, seria um triunfo legitimado pelo
povo e não apenas pelas centenas de picaretas e ordinários do Congresso Nacional. Seria, gostemos ou
não, uma decisão popular. Uma tragédia tristemente inesquecível na História brasileira. Tentemos, pois,
evitá-la.

É possível a Fernando Haddad superar a imensa vantagem do fascista na largada do segundo turno?
Uma análise sem senso de realidade responderá que sim e até com alguma facilidade. Uma com os pés no
chão dirá que sim, mas que o quadro é muito difícil. Bolsonaro não cresceu só entre os mais ricos, mas
também entre os mais pobres.

No mapa da votação, apesar da dianteira de Haddad no Nordeste, nota-se
que o fascista venceu em capitais e cidades relevantes da região. E nem de longe aquelas imensas
aglomerações urbanas podem ser classificadas como redutos de pessoas ricas. É a realidade e é em cima
delas que devemos trabalhar.

Está claro agora que o discurso fascista encontrou entrada em camadas populares, não só no Nordeste. As
razões são várias, mas é nesse setor que reside a única chance de virada. Em Português claro, já houve para as
duas candidaturas finalistas a transferência dos votos dos que ficaram de fora do segundo turno, embora
Haddad ainda possa extrair mais um tanto dos órfãos de Ciro Gomes. E, para o petista voltar ao páreo com
chance razoável, a conta simples de boteco indica que ele precisa “roubar” votos de Bolsonaro.

Essa subtração dos votos do fascista não se dará entre as rendas mais altas. Ali a adesão ao candidato das trevas tornou-se ideológica. É apenas perder tempo investir nesse terreno. A fatia, pequena, dos ricos que entende a questão democrática e a privilegia sobre o antipetismo marchará com Haddad. E a conta ali já está fechada.

Fazer concessões programáticas para obter o apoio que não virá só desmoralizará a campanha de Haddad. A mãe de todas batalhas se dará entre os pobres beneficiados pelo lulismo e que estão encantados, espera-se momentaneamente, por um discurso de combate à corrupção e do “bandido bom é bandido morto”.

Como fazer esse embate é difícil pelo tempo curto e pelo inesperado desafio de enfrentar essa arma letal
que se revelou o WhatsApp, uma usina de mentiras e de embotamento mental. Mas é possível sim mostrar
que por trás de todas as fake news o projeto econômico de Bolsonaro esconde um massacre total de direitos,
uma alienação inacreditável de conquistas civilizatórias nas relações trabalhistas e um grau de capitalismo
selvagem inimaginável em qualquer das chamadas democracias burguesas.

Mesmo que o milico corajoso se borre e não compareça aos debates, como deve de fato acontecer, o horário gratuito de TV do campo democrático e a militância da rua devem transformar essa discussão em monotemática nas próximas duas semanas. Pautas identitárias, sempre nobres, não vão decidir a eleição agora. Quem as adota já está com Haddad.É difícil, sim, dramática mesmo, a hora.

Mas há esperança. Lutar até o fim do jogo contra a barbárie é uma tarefa gigantesca que a História reservou agora aos democratas. Desânimo é quase uma traição. Está em jogo não o futuro de um partido, campo político estreito ou um indivíduo. É a Democracia em confronto com o fascismo que nos obriga a não desistir.

Imagem: Guernica, Picasso

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