Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Os acontecimentos dos últimos dias provam, para quem ainda duvidava, que não será possível a Democracia esperar até 2022 para derrubar Bolsonaro. A série de torpezas, patifarias e tudo de ruim passou do limite. E o sujeito e seus filhos ainda têm a cara de pau e as mãos de sangue para ameaçar o País com um golpe.
É preciso deter, de uma vez por todas, o mal que o bando fascista está causando. A pergunta é como operar para que isso seja possível.
Há ainda em setores da esquerda uma questão que é procedente: tirar Bolsonaro e empossar outro ogro como Mourão não seria trocar seis por meia dúzia? Sim, a única, e irrelevante no caso, diferença é que Bolsonaro tem base popular (gostemos ou não) e seu vice provavelmente seria derrotado em eleição de síndico de prédio.
Não dá, portanto, para o campo popular entrar em uma campanha pela saída de Bolsonaro e pela consequente ascensão de Mourão ao poder. Qual o caminho então?
O mundo ideal, que pode ser possível de ser alcançado, é ir à luta pela realização de eleições presidenciais antecipadas. Um intervalo: no plano imediato, é óbvio que a situação sanitária impede a utilização do que seria a maior arma dos que querem a deposição imediata do fascista: mobilização de rua.
Se a pandemia não fosse impeditiva, aliás, é quase certo que multidões estariam nas ruas para derrubar Bolsonaro. Mas, mesmo às custas das mortes de milhares de brasileiros que poderiam ter sido evitadas, uma hora a pandemia vai passar e será possível preencher o asfalto com o grito indispensável.
Voltando ao hoje, o que se pode fazer por enquanto? Bolsonaro tem o apoio de cerca de um terço da população. Essa parte parece fixa, não diminui nem com a sequência de atrocidades do fascistas. Mas é um terço. Os outros dois terços, sólida maioria, são contra o governo de extrema-direita. Não o suportam mais.
É importante, porém, abaixar a bola dos sonhadores. A esquerda sozinha não tem força para derrubar Bozo. Vai daí que é necessário, com o perdão dos puristas e dos delirantes do nosso lado, a construção de uma frente ampla contra o fascismo.
O centro, que já demonstra sua insatisfação aderindo aos panelaços notadamente nos grandes urbanos, e alas da direita civilizada devem ser atraídas para a tarefa de superar as trevas.
Sim, é isso. É preciso conviver até com a direita convencional para derrotar o fascismo. Não é o ideal? Não, não é, mas é o que temos para hoje. Uma plataforma mínima de convergência que englobe valores democráticos, independência dos Poderes, liberdade de imprensa, fim da militarização do governo e de perseguição a quem pense diferente é passível de construção.
Nossas diferenças, que são muitas e inconciliáveis, a gente disputa depois. Com o fascismo ameaçando o golpe é que não teremos nada. O Brasil não pode esperar mais.
A insanidade de uma gangue miliciana já desmoralizou o País nos fóruns internacionais. No Exterior, nos tornamos um pária. Pior, aqui dentro sofremos hoje clara ameaça de retrocessos do pouco que resta em um Estado em o aparato militar, PF e PGR estão impregnados de subserviência para o fascismo e até áreas técnicas da Saúde foram invadidas por militares limitados intelectualmente.
A extrema-direita avacalhou o Brasil e não tem maioria para isso. É fora da sanidade imaginar que o setor popular tem força hoje para sem alianças encerrar esse ciclo medonho. Só uma ampla concertação política tirará os brasileiros do festival medieval.
Se não for isso, é esperar por um golpe ou, na hipótese otimista, aguardar a urna de 2022. Se houver Brasil em 2022.