Luto na PM do Pará: mais de 40 mortos nos últimos 20 dias de pandemia

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Por Yuri Fernandes, compartilhado de Projeto Colabora – 

Em média, dois policiais militares morrem a cada dia no Pará por covid-19, suspeita da doença ou problemas respiratórios, mostra levantamento. “Policiais saem de casa, mas não sabem se vão voltar vivos para a sua família”, diz filho de uma das vítimas.

Segundo a Polícia Militar do Pará, somente no mês de abril, foram adquiridas 72 mil luvas descartáveis, 53.900 máscaras, 350 unidades de sabonete líquido, 6.600 litros de álcool gel e 5.933 litros de álcool líquido 70% para uso da tropa e higienização das viaturas policiais. Já foram testados 779 militares. (Foto: Agência Pará)

“Policiais saem de casa, mas não sabem se vão voltar vivos para a sua família”, desabafa Gabriel Brito, filho de um subtenente morto há duas semanas no Pará. O relato, até dois meses atrás, poderia ser completamente entendido no contexto da insegurança na qual esses profissionais vivem. Mas agora eles estão expostos a mais um agente preocupante por causa da pandemia do coronavírus. A morte de Daniel Gonçalves, de 48 anos, por suspeita de covid-19 é apenas uma entre dezenas em menos de um mês na Polícia Militar do Pará (PMPA). Desde o dia 25 de abril, 41 profissionais da área perderam suas vidas; duas mortes a cada dia. A grande maioria, pelo menos 35, por complicações relacionadas ao vírus, por problemas respiratórios ou por serem portadores de outras doenças de risco. Metade estava em atividade na corporação. No Instagram, a página do órgão virou um cemitério virtual. Postagens com mensagens de luto tomaram conta da rede social e a população paraense se manifesta, a cada novo obituário, de forma atônita.




O número de mortes de policiais militares no Pará por covid-19 ou suspeita é maior, por exemplo, do que no Estado do Rio de Janeiro, o terceiro mais afetado pelo coronavírus no Brasil. Na região fluminense, com o dobro do número de habitantes e com quase o triplo de efetivos na PM, 10 policiais perderam a luta contra a covid-19. No dia 29 de abril, o G1 publicou uma reportagem na qual informava que, segundo a PM paraense, até o dia 27 do mesmo mês a corporação contabilizava 705 casos suspeitos, 97 confirmados e 1.007 policiais afastados.

Página do Instagram da Polícia Militar do Pará comunica frequentemente as mortes de policiais do Estado (Reprodução/Instagram)

Em busca dos dados atualizados e mais detalhes sobre os impactos do coronavírus, o #Colabora entrou em contato com as assessorias de comunicação da Polícia Militar do Pará e da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado (Segup). Porém, a Segup afirmou que “por motivos estratégicos e de inteligência os dados não são públicos”. E que “as estimativas são utilizadas como base das ações preventivas e também de atendimento médico, quando necessário”.

Perfil das vítimas

Com base nas postagens feitas no perfil oficial do Instagram da PMPA foi possível fazer um levantamento sobre as mortes durante os últimos 20 dias. Segundo as informações, das últimas 41 mortes, 32% foram em razão de complicações relacionadas à covid-19; 20% tiveram sintomas de covid-19, mas sem a confirmação divulgada; e 17% em decorrência de síndrome respiratória aguda grave ou outras questões pulmonares. Cinco não tiveram a causa revelada e outros quatro morreram por motivos como problemas no coração e câncer – pacientes do grupo de risco para a covid-19. Durante o período analisado pelo #Colabora, pelo menos em cinco dias foram 4 mortes a cada 24 horas.

A média de idade dos policiais mortos é de 54 anos, sendo o soldado Wilson Roberto, de 31, o mais novo. Ele veio à óbito por complicações de saúde relacionadas à covid-19. O mais velho, o coronel da Reserva Remunerada João Soares da Silva tinha 83, morreu por síndrome respiratória aguda grave. Entre o total, duas mulheres: as sargentas Sebastiana Cristina, de 52 anos, e Maria Luciete Ferreira, de 57. A primeira por causa de uma insuficiência respiratória e pneumonia; a segunda, por complicações respiratórias relacionadas à covid-19.

No dia que fui levá-lo para a emergência no hospital da Polícia do Estado do Pará, não passamos nem da porta, não tinha emergência. Meu pai precisava de aparelho para respirar, mas não tinha. Infelizmente, ele não saiu nem do carro pelo fato de não ter esses atendimentos no hospital

Gabriel Brito
Filho do subtenente Daniel, morto há duas semanas

Policias reformados ou na reserva remunerada representam a metade. Os outros 50% estavam em plena atividade. É o caso do soldado Ulisses Gonçalves da Silva, que tinha 33 anos. O jovem, diabético, morreu por insuficiência respiratória aguda e complicações de saúde relacionadas à covid-19. Trabalhava no 20° Batalhão de Polícia Militar (20° BPM), em Belém, e estava na corporação há mais de 6 anos. O #Colabora questionou a Segurança Pública e Defesa Social do Pará se o Ulisses, que fazia parte do grupo de risco para a doença, estava em serviço antes da internação ou se já havia sido afastado, mas não obtivemos resposta até a publicação dessa matéria.

A PM garantiu que utiliza a estratégia de testagem rápida dos militares com suspeita da doença, a partir de determinados critérios, para detectar os casos positivos para melhor acompanhamento e cuidados. Já foram 779 militares testados, segundo a assessoria do órgão. Mas, nos comentários das postagens com as mensagens de luto, muitas pessoas questionam a Polícia Militar e fazem denúncias sobre a falta de Equipamentos de Proteção Individual para o efetivo. Ao #Colabora, a Segup afirmou que disponibilizou “mais de 3.000 testes rápidos, 1.200 medicamentos, além de 15 mil vacinas para Influenza em postos exclusivos para os servidores. Ocorre, ainda, a distribuição de máscaras, luvas e álcool 70%, líquido e em gel para todas as forças de segurança”. Uma mulher, no entanto, relatou nos comentários que os irmãos policiais, de São Felix do Xingu, estavam sem os materiais de proteção.

Pará em estado grave de saúde

Diante da mobilização dos internautas, a assessoria de comunicação da Polícia Militar fez uma série de esclarecimentos nas redes sociais respondendo várias questões relacionadas às medidas de assistência adotadas e sobre os hospitais que estão atendendo a corporação. Sem essa orientação prévia, Gabriel Brito, por exemplo, levou o pai para o Hospital da Polícia Militar do Pará, em Belém. “Não passamos nem da porta, não tinha emergência. Meu pai precisava de aparelho para respirar, mas não tinha. Infelizmente, ele não saiu nem do carro pelo fato de não ter esses atendimentos no hospital”, lamenta.

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