Mães Paralelas e um breve paralelo com o Brasil e com nossos sentimentos

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Por Cícero César Sotero Batista, doutor em Literatura

Tomo a liberdade de lhe escrever para falar de “Madres Paralelas”. Que filme, que elenco, que diretor! De fato, são muitas e inevitáveis as exclamações. Salientei algumas abaixo:




MADRES, MADRID!
Que cidade bonita. Como combinaram bem a tradição da arquitetura com a tecnologia. O apartamento de Janis é caliente e moderno, dá vontade de bater na porta e se convidar para tomar um café ou um conhaque. Ou vai-se a um restaurante saborear um vinho. Sabe, passa-se a impressão de que as pessoas trabalham muito, é vero, mas que também sabem o que fazer com o dinheiro.

Depois de Madrid, o Rio de Janeiro. Sigo pensando em como a nossa cidade poderia ser mais bela. Se ao menos nossa urbanização fosse mais humana, mas por aqui prevaleceu a estética da gambiarra, fruto da falta de investimento em urbanização de uma cidade.

Enfim, coisas nossas, são muitos os fios. Não consigo sair do Rio, nunca consegui. Fui criado voltando de férias de ônibus pela Avenida Brasil. O cheiro de podre me trazia a certeza de que eu estava na cidade.

QUE FILME FEMINISTA!
Que camiseta linda que cobre o corpo de Penelope Cruz. Não me lembro o que estava escrito: era algo como “We should all be feminists”, algo do tipo. Uma simples frase me fez lembrar de Chimamanda, de Angela Davis, de Bell Hooks, da luta feminista por voz, por direitos, por tudo que a sociedade, patriarcal como ela, lhes nega ou restringe.

MATERNIDADES!
O enredo tem uma pitada de trama de novela mexicana, que , se não fosse Almodovar, não sei se colaria, não. Mas sem “suspension of disbelief” não se é um bom espectador.
Dá o que pensar uma discussão sobre maternidade a partir da relação entre Janis, Ana e a mãe da Ana. “O que significa ser mãe?”, eis uma grande pergunta.

É também conhecido nosso o dilema: a carreira ou a criação dos filhos? É claro que a perspectiva sobre o assunto deve se orientar pela classe: quem puder contratar uma babá para dar uma força, que o faça. Quem não puder, precisa contar com as redes de apoio à disposição. Em todo caso, não se nasce mãe, mas se torna.

ACERTAR AS CONTAS COM O PASSADO!
A mãe de Ana, atriz, está radiante por fazer parte do elenco de umas peças-cabeça: uma de Eugene O´Neill: “Longa jornada noite adentro”; outra de Lorca – um autor que foi assassinado pelo regime franquista. Quer dizer, há toda uma série de pistas sobre o passado bem diante de seus olhos que ela não se dá conta.

Não é à toa que todas as personagens do filme têm que, em algum momento, fazer uma confissão: encarar a verdade, doa a quem doer, seja como for. Temos direito a passar a história a limpo, em vez de passar pano na história. Precisamos acertar as contas com o passado. Restituir a dignidade dos mortos.

É assim que podemos acertar os ponteiros do relógio. As atrocidades da Espanha franquista não podem ficar impunes. E eu fico por aqui, pensando no Brasil.

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