Hitchcock dizia que dirigir um filme era um processo similar ao de compor uma sinfonia: o segredo estava em equilibrar as passagens lentas com as mais fortes, de forma que uma valorizasse a outra.
Por Celso Sabadin, compartilhado do Planeta Tela
Lembrei disso ao ver “Maestro”, atualmente na Netflix. Não exatamente por causa da sinfonia (tema básico do longa), mas sim pela questão do equilíbrio. Um equilíbrio que “Maestro” não consegue obter.
Em seu segundo longa como diretor (o primeiro foi “Nasce uma Estrela”, de 2018), Bradley Cooper parece procurar o grande momento em todos os instantes. Cada sequência surge na tela em busca de uma apoteose, de um clímax, todas com um formalismo estético rígido que, a princípio, poderia não ser um grande problema, não fosse esta incessante procura pelo intenso a maior responsável pelo filme não fluir. É como ver uma sucessão de exaltações estético/cinematográficas sem um fio condutor narrativo com dramaturgia forte o suficiente para amarrar o conjunto.
Interessante notar com outra recente produção original Netflix – “O Mundo Depois de Nós” – padece do mesmo problema, com seus movimentos exibicionistas de câmera.
Não que “Maestro” seja um filme ruim – não é por aí – mas sua ostentação formal acabou me afastando da verdade humana de seus personagens, prejudicando, assim, a tão necessária empatia que se espera de uma obra artística. O filme me pareceu mais preocupado com a precisão das próteses faciais de Cooper que com a construção humanística do biografado. Chegou inclusive a me lembrar de “Marighella”, filme mais preocupado em abarrotar seus sets com automóveis de época que propriamente construir a veracidade íntima e humana de seu protagonista.
Pessoalmente, o que mais me agradou no filme foi me informar através dele sobre a série “Omnibus”, espécie de vídeo-aulas que Bernstein ministrava via televisão, aproximando a música clássica da percepção popular. Há vários episódios disponíveis no YouTube, e eu estou saboreando deliciosamente cada um deles.