Maeve Jinkings: ‘Com Bolsonaro e pandemia, meio cultural é terra arrasada’

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Por Camila alvarenga – Compartilhado de Ópera Mundi

Atriz lamentou falta de políticas públicas de apoio e sustentação para o meio artístico, em comparação com as que existiram durante os governos petistas

No programa SUB40 desta quinta-feira (22/03), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou a atriz brasiliense Maeve Jinkings, que lamentou a situação do Brasil e do meio artístico sob o governo de Jair Bolsonaro e em plena pandemia.

“É terra arrasada”, afirmou. Ela contou que desde o governo Michel Temer (2016-2018) a indústria cultural vem sendo precarizada e agora, com a crise econômica e a entrada dos serviços de streaming que realizam produções próprias, essa situação está se agravando mais ainda.

“Por um lado é ótimo que tenha quem empregue além da TV Globo, mas, por outro, eles têm a consciência do poder que têm. Se já existia um comportamento das empresas estrangeiras de nos tratarem como trabalhadores ‘menores’, isso tende a piorar. Me preocupa”, admitiu.

Jinkings disse temer, principalmente, pelos trabalhadores que não podem se dar ao luxo de perder um trabalho, “por mais precarizado que seja”, e pelos artistas que estão começando. Estes, por ainda não terem prestígio e contatos, não conseguirão desenvolver projetos próprios, também pela falta de políticas públicas.

‘Sempre fui muito crítica à Lei Rouanet’

Falando sobre os governos petistas e o incentivo à cultura durante esse período, a atriz afirmou que as políticas de isenção fiscal para empresas que apoiassem projetos culturais não eram as melhores, “porque deixavam os projetos culturais nas mãos de quem pouco entende ou pouco se interessa pela arte”.

“Eu mesma sempre fui muito crítica à própria Lei Rouanet. Acho que as políticas híbridas, que usam dinheiro de empresas privadas para fomentar a cultura, precisam de revisão. Sempre foram complicadas”, analisou.

Jinkings confessou, porém, que eram melhor do que nada: “Agora o gargalo está afunilando cada vez mais, sucatearam as políticas que havia, não há mais verba”.

Por outro lado, mais além de políticas públicas direcionadas, a atriz ponderou sobre como os governos de Lula, sobretudo, focados em auxiliar o nordeste do Brasil, contribuíram para alterar o eixo de produção artística no país.

“Durante o governo Lula, Pernambuco foi o estado que mais cresceu. Então cheguei no momento do ciclo de ouro do cinema pernambucano, havia novas tecnologias para o audiovisual, políticas públicas do governo estadual, de Eduardo Campos [1965-2014], na época”, relembrou.

Reprodução/Instagram Atriz Maeve Jinkings 

Até então, a artista afirmou que pensava que a cena cultural relevante encontrava-se no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, e que se surpreendeu ao descobrir que Recife era uma “cidade cinéfila”.

“Descobri que muita coisa acontecia fora do eixo RJ-SP. Eu tinha sido enganada e quem estava perdendo era eu”, relatou Jinkings, que mora na capital pernambucana até hoje.

Passado, presente e futuro




Antes de se mudar para Recife, Jinkings passou 15 anos vivendo em São Paulo, onde foi estudar teatro, depois de formar-se em Publicidade em Belém do Pará, onde morava com a mãe.

“Na verdade caiu minha ficha de que queria ser atriz com nove anos, numa apresentação teatral para uma aula de matemática, sobre o livro O Homem que Calculava, de Malba Tahan. Mas guardei segredo até os 18 anos, porque tinha medo. Enquanto as famílias dos meus amigos que queriam fazer teatro tentavam desencorajá-los, eu sabia que se contasse que queria estudar isso para a minha, iam me apoiar”, revelou.

O primeiro longa-metragem de Jinkings foi “Falsa Loura”, depois “O Som Ao Redor” – que inclusive foi nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro -; e então ela migrou para o mundo da televisão. Atualmente interpreta Domingas em “A Regra do Jogo”.

Além disso, a atriz conta que tem muitos projetos para o futuro, em que pese, diz, “a dificuldade de imaginar o futuro”. Ela anunciou que tem uma filmagem prevista para o segundo semestre deste ano com a diretora Carolina Markowicz. “O resto acho que não posso contar, mas têm coisas acontecendo”, afirmou.

Com relação ao presente, seu plano é “não enlouquecer”.

“Se é que o momento atual tem algo de bom, a parte boa que eu estou vivendo é estar mais atenta aos meus afetos, às pessoas com quem eu cruzo. Me sinto em carne viva, com aquela pele bem fininha, muito cognitivamente alerta. O que eu acho bom, apesar de às vezes ser dolorido”, refletiu.

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