Compartilhado de Deutsche Welle –
Levantamento aponta que 60% defendem medidas drásticas de confinamento para conter disseminação da covid-19. Para 65%, é mais importante que as pessoas fiquem em casa do que retomar a economia.
Em meio à escalada no número de casos e de mortes por covid-19 no Brasil, uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada na noite desta terça-feira (26/05) aponta que a maioria dos brasileiros é a favor do lockdown, ou seja, de medidas drásticas de confinamento para conter o avanço da doença.
Apesar disso, cresceu o número de pessoas que saem às ruas em meio à quarentena imposta por várias cidades para frear a disseminação do novo coronavírus. O Brasil é segundo país do mundo em número de casos (391.222) e registra 24.512 mortes em decorrência da covid-19, segundo o Ministério da Saúde.
A enquete mostra que 60% dos entrevistados acreditam que o lockdown é recomendável; 36% são contrários; 2% não souberam responder; e 1% se disse indiferente. A pesquisa ouviu, por telefone, 2.069 pessoas, entre segunda e terça-feira. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
O lockdown, também definido como bloqueio total, foi adotado em vários países, entre eles Espanha, Itália e Nova Zelândia, e no Brasil, em cidades como Belém, no Pará, e em São Luís, no Maranhão. Na cidade de São Paulo, a imposição foi defendida pelo prefeito Bruno Covas, mas não tem o respaldo do governador do estado, João Doria.
Segundo o Datafolha, para a maioria dos brasileiros, a preocupação econômica está em segundo plano: 65% defendem que é mais importante que as pessoas fiquem em casa do que retomar a economia. No começo de abril, eram 76%. Os que apoiam a flexibilização das medidas de isolamento social, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, eram 18% e agora são 28%.
Entre os empresários, porém, ocorre o inverso: 51% são contrários a manter as pessoas em casa, e 39% consideram o isolamento prioridade. Quando a questão é o lockdown, 55% dos empresários são contra, e 38%, a favor. Entre os estudantes, 83% apoiam a ideia de ficar em casa, e 16% defendem a flexibilização.
Segundo o Datafolha, entre a parcela mais rica da população, que ganha mais de dez salários mínimos, 50% são a favor do lockdown, e 47%, contra.
Em termos de região, o maior apoio à medida vem do Nordeste (69%). A menor simpatia pelo lockdown vem do Sul (54%), região que concentra grande número de apoiadores de Bolsonaro.
Metade dos entrevistados disse que só sai de casa quando é inevitável, mesmo índice das pesquisas anteriores. Por outro lado, 35% responderam que se cuidam, mas estão saindo de casa. O índice é maior do que nas três pesquisas anteriores, divulgadas em abril, quando variou entre 24% e 27%.
Bolsonaro vem criticando o isolamento social. Mais de uma vez, o presidente provocou aglomeração em Brasília ao visitar o comércio. Além disso, participou ao menos três vezes de manifestações a seu favor, cumprimentando e beijando simpatizantes, indo contra a recomendação de médicos. Em março, o presidente chegou a dizer que “ficar em casa é coisa de covarde”.
Também cresceu o apoio ao chamado isolamento vertical, medida amplamente defendida pelo presidente. Na última pesquisa, 46% eram a favor de que pessoas que não estão em grupos de risco possam sair de casa; agora, são 52%. A Suécia, país que adotou esse modelo, teve o maior número de óbitos em um mês desde dezembro de 1993. O país apresenta um índice muito mais elevado de casos e de mortes por covid-19 do que seus vizinhos nórdicos, que adotaram medidas mais rígidas.
A pesquisa também aponta que mulheres são mais favoráveis ao confinamento: 68%, ante 52% dos homens. Além disso, elas saem menos de casa: entre as mulheres, 25% responderam que se cuidam, mas saem. Nos homens, esse índice é de 46%.
As pessoas com mais de 60 anos, consideradas grupo de risco, são as que mais ficam em casa o tempo todo: 21%. Em relação à pesquisa anterior, o número geral dos que estão totalmente isolados diminuíram de 16% para 13%.
Pensando em uma retomada futura das atividades, os brasileiros não se mostram muito otimistas: 40% acreditam que o país voltará à normalidade em um prazo de quatro meses a um ano. Para 9%, isso deve acontecer em dois meses; para 10%, em dois a três meses; e para 8%, de três a quatro meses.
LE/ots