Mais corredores para ônibus e incentivo ao uso de bicicletas: propostas para o novo prefeito do Rio

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Por Oscar Valporto, compartilhado de Projeto Colabora – 

Estudo do ITDP reúne dados e propostas para melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida dos cariocas na próxima gestão municipal

Ônibus em corredor exclusivo na Zona Norte: proposta do ITDP triplicaria o número de quilômetros de corredores para coletivos na cidade (Foto: Prefeitura do Rio/Divulgação)

Implantação de mais de 107 quilômetros de corredores exclusivos para ônibus e estimular o uso da bicicleta, com a ampliação da infraestrutura cicloviária e a integração com outros modos de transporte estão entre as principais propostas levantadas em estudo feito no Rio de Janeiro pelo ITDP – Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento, organização internacional especializada no tema – para contribuir com a nova gestão da Prefeitura do Rio. “O transporte no Rio de Janeiro é distante das pessoas, caro, inseguro e desigual”, alerta o documento, que lista cinco propostas para melhorar o transporte público e cinco propostas para tornar o transporte na cidade mais sustentável. “Nós buscamos apresentar propostas que tivessem impacto na melhoria da qualidade de vida dos moradores, sem exigir grandes investimentos porque sabemos das limitações dos recursos”, explica Bernardo Serra, gerente de políticas públicas do ITDP Brasil.




Nesta quinta, dia 19 de novembro, às 10h, o ITDP Brasil e a Casa Fluminense – em parceria com o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e com apoio do Instituto Clima e Sociedade – vão realizar encontro online De Olho no Transporte para debater os principais desafios de mobilidade para o Rio de Janeiro, apresentados neste estudo e também em pesquisa da Casa Fluminense, com dados produzidos a partir do monitoramento por GPS da frota de ônibus carioca. Serão convidados para entre encontro virtual representantes das duas candidaturas que estarão no segundo turno das eleições na cidade do Rio para debater suas propostas em busca de um sistema de transportes mais eficiente, seguro e inclusivo. O estudo do ITDP aponta que o carioca que pega dois ônibus por dia e ganha salário mínimo gasta 19% da renda no transporte.

A análise por GPS dos deslocamentos dos ônibus no Rio de Janeiro foi um importante instrumento também para a elaboração das propostas do ITDP, que inclui o fortalecimento da gestão do transporte público. “Esses dados de GPS são da própria prefeitura, mas essas informações parecem que simplesmente não são utilizadas como instrumento de gestão, fiscalização e planejamento. Como também não são usados os dados de bilhetagem que só servem às próprias empresas e não à prefeitura, que é o poder concedente”, argumenta Bernardo Serra, acrescentando que o monitoramento e a transparência desses dados são fundamentais para intervenções mais eficazes.

Foi com base nesses dados que o ITDP conseguiu identificar os principais gargalos para o transporte por ônibus na cidade, vias com velocidade média abaixo de 15km/h. “O maioria dos cariocas – bem como a maioria dos moradores da Região Metropolitana do Rio – leva mais de uma hora para ir de casa ao trabalho. E esse tempo seria reduzido com a criação de mais corredores exclusivos, principalmente nas vias que levam a área central da cidade onde estão concentrados empregos e oportunidades”, afirma o diretor de políticas públicas do ITDP.

Insegurança e falta de estrutura para pedestres e ciclistas: problemas do Rio (Arte: ITDP)
Insegurança e falta de estrutura para pedestres e ciclistas: problemas do Rio (Arte: ITDP)

Para elaborar a proposta com novos corredores exclusivos, principalmente na Zona Norte, para facilitar a chegada ao Centro, o instituto tomou como base o próprio Plano de Mobilidade Urbana Sustentável do Rio de Janeiro, estabelecido por decreto municipal em 2019, e seus corredores de BRS (Bus Rapid Service). “Precisamos implantar mais corredores exclusivos mas também ter uma fiscalização eficaz para impedir seu uso pelo transporte individual”, frisa Serra. Com mais 107 quilômetros, o Rio triplicaria a extensão de seus corredores.

Além da ampliação dos corredores exclusivos e do fortalecimento da gestão, o documento do ITDP propõe ainda, para melhorar o transporte público, a finalização de obras em andamento, particularmente o BRT Transbrasil, “na sua versão completa, com um corredor exclusivo até o centro da cidade, e a finalização dos terminais Margaridas e Missões que garantem a conexão metropolitana”; mudanças no marco legal das concessões do serviço de ônibus “para tornar o transporte público mais eficiente e menos poluente”; e a diversificação das fontes de financiamento do transporte público, com sugestões como taxa de mobilidade, cobrança pelo uso da via por veículos de aplicativos, pedágio urbano na área central, zonas de baixa emissão de carbono que tarifem veículos poluentes.

Insegurança para ciclistas e pedestres

O ITDP enfatiza que a bicicleta poderia ser usada como meio de transporte para facilitar deslocamentos. A MobiliDADOS, plataforma de indicadores do ITDP, mostra que mais de 800 mil pessoas na capital do Rio de Janeiro não conseguem acessar postos de saúde e outros estabelecimentos de saúde de baixa complexidade, em quinze minutos de caminhada. O estudo indica ainda que 18% das crianças de 4 a 6 anos (idade de pré-escola) e 19% dos cariocas de 6 a 14 anos (ensino fundamental) precisam caminhar mais de 15 minutos para chegar a uma unidade de ensino. “O uso da bicicleta tem papel fundamental para reduzir parte dessas lacunas, mas continua sendo percebido comoum modo de deslocamento inseguro devido à falta de infraestrutura e às altas velocidades nas vias da cidade”, aponta o documento.

Ciclovia na Zona Oeste do Rio, inaugurada em 2011: cidade sem investimentos em infraestrutura cicloviária desde 2017 (Foto: J. P. Engelbrecht/Prefeitura do Rio)
Ciclovia na Zona Oeste do Rio, inaugurada em 2011: cidade sem investimentos em infraestrutura cicloviária desde 2017 (Foto: J. P. Engelbrecht/Prefeitura do Rio)

O gerente de políticas públicas do ITDP aponta ainda que ciclovias e ciclofaixas estão concentradas em áreas já mais privilegiadas da cidade e não existem políticas para incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte. “Faltam vias para bicicleta que levem às estações de trem, metrô e BRT, integrando a bicicleta com esses modais de transporte de alta e média intensidade, como também faltam locais para a guarda das bicicletas nas estações”, destaca Bernardo Serra, criticando a falta de investimento em ciclovias e ciclofaixas. “Nos últimos anos, não houve abertura de novas vias e, na Zona Norte e na Zona Oeste, ciclovias e ciclofaixas estão realmente abandonadas.

O estudo do ITDP mostra que 81% dos cariocas estão distantes da infraestrutura cicloviária e que a maior parte e que essas infraestruturas estão mais próximas de pessoas com maior renda. “Os deslocamentos por bicicleta e até a pé devem ser estimulados, mas é preciso de investimento para garantir sua segurança”, frisa o diretor do ITDP. Em 2018, 48% das mortes no trânsito na Região Metropolitana do Rio foram de pedestres e ciclistas; 14% de motociclistas. A melhoria da gestão da segurança no trânsito é uma das cinco propostas que o ITDP apresenta para tornar a cidade mais sustentável.

O documento O Carioca e o Transporte na Cidade também propõe que “a próxima gestão municipal deve atender à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e reduzir a velocidade máxima nas vias da cidade para 50 km/h” para garantir a segurança de pedestres e ciclistas; a ampliação a infraestrutura cicloviária e sua integração efetiva ao sistema de transporte público, “com a implementação de bicicletários em estações de trem, metrô, BRT e barcas, em equipamentos públicos”; mudanças no planejamento da acidade para garantir que “deslocamentos cotidianos possam ser feitos em 15-30 minutos a pé ou em bicicleta” e também para estimular o uso residencial do Centro. “É fundamental que o plano diretor da cidade seja revisado e de fato implementado por meio de uma nova lei de uso e ocupação do solo que estimule o adensamento no entorno de corredores de transporte, o aumento de moradias no centro da cidade e a distribuição de oportunidades e equipamentos no território”, afirma o gerente de Políticas Públicas do ITDP.

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