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Diretora do Fórum Brasileiro de Segurança afirma que o agravamento da violência também está relacionado com a maior convivência entre vítimas e agressores durante a pandemia.
Só em São Paulo, no ano passado, mais de 50 mil mulheres pediram medidas protetivas contra da violência doméstica.
“Você é uma analfabeta! Cala a boca, não te perguntei. Se você não ficar comigo, você vai perder a sua casa, seus filhos e o seu emprego”. Eram palavras como essas que duas mulheres vítimas de violência doméstica ouviam dentro de casa. Até que apanharam dos companheiros.
“A gente era praticamente recém-casado, eu gostava muito dele e eu vi aquilo como um ato isolado, sabe, uma explosão que não iria mais se repetir né”, conta uma das vítimas.
Mas o marido fez de novo. “Ele questionou o meu comportamento de não estar mais assim carinhosa, dedicada. Daí gerou uma discussão e uma hora ele me deu um tapa no rosto. Imediatamente eu disse pra ele que eu estava indo na delegacia da mulher fazer uma denúncia. Só que ele não acreditou né”, desabafa a mulher.
A história de uma outra outra vítima quase terminou em morte, quando o namorado tentou atirá-la pela janela do apartamento e foi preso.
“Ele já tinha rasgado a rede de proteção e tentou me jogar algumas vezes. Consegui jogá-lo no chão a ponto de sair e descer pra pedir ajuda, pra chamar a policia”, relata a vítima.
Quando essas duas mulheres pediram ajuda e conquistaram a chamada medida protetiva de urgência, prevista na Lei Maria da Penha, os agressores não se aproximaram mais.
Em 2020, o número de vítimas que conseguiram na Justiça de São Paulo a proteção cresceu 12%, em relação ao ano anterior, quando não havia pandemia. O aumento foi ainda mais significativo na comparação com 2018: mais de 52 mil mulheres receberam medidas protetivas no estado, só no ano passado.
A diretora do Fórum Brasileiro de Segurança afirma que o agravamento da violência também está relacionado com a maior convivência entre vítimas e agressores durante a pandemia.
“Claro que se a gente tem mais medidas protetivas de urgência sendo concedidas significa que a gente tem mais mulheres sendo vitimas de violência doméstica. Por outro lado, se tem algo positivo nisso, é que as mulheres estão buscando ajuda”, destaca Samira Bueno.
O Tribunal de Justiça de São Paulo começou uma campanha para estimular as denúncias.
“Hoje as mulheres sabem que existe sim a punição, existem providências contra o agressor. A mulher sabe que ela vai ser ouvida e que serão tomadas medidas inclusive protetivas se houver necessidade”, relata Maria de Lourdes Vaz de Almeida, presidente da comissão de combate à violência doméstica.
Nem sempre a medida protetiva é suficiente para conter os agressores, mas é um começo. Depois de mais de três décadas de casamento, essa mulher espera refazer a vida: “Eu acho que ainda, pelos anos que eu tenho pela frente, posso ser não só feliz, mas ter paz”, finaliza.