Compartilhado do Blog de Plinio Teodoro –
Bolsonaro sabe também que no meio onde construiu sua carreira política com um discurso falso moralista e o jargão de que “bandido bom é bandido morto” cobra-se um alto preço pela falta de lealdade, traição e por se deixar antigos aliados pelo caminho
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Jair Bolsonaro sempre foi protagonista no picadeiro da velha política brasileira. Como raposa do baixo clero por quase 30 anos sabia de todas as técnicas e artimanhas para corromper as estruturas. E, pela baixa produção legislativa, teve muito tempo para isso.
A prática da “rachadinha”, de se contratar funcionários fantasmas para “rachar” os salários pagos com os recursos permitidos para investimento em equipe técnica nos gabinetes, é tão antiga quanto a politicalha brasileira.
No meio sempre houve um compadrio para se tolerar o crime, assim como é feito com o nepotismo nas diversas estruturas de poder, em todas as instâncias do legislativo, executivo e judiciário.
No entanto, as revelações da organização criminosa – segundo os promotores do Rio de Janeiro – que praticava esse tipo de corrupção sob a batuta de Flávio Bolsonaro jogam luz a um canto sombrio no porão que abriga o passado do clã presidencial.
Alçado à política após uma carreira militar fracassada, Bolsonaro usou seu discurso de “bandido bom é bandido morto” e sua conduta estapafúrdia calcada em um falso moralismo para ganhar aplausos e atrair apoio de pessoas da mesma laia.
Vendo que isso rendia muito dinheiro – bem mais do que dividendos políticos e sociais – usou a popularidade e os contatos para lançar os filhos à mesma carreira. E, segundo conversas pelo Whatsapp do próprio Queiroz reveladas pelo Ministério Público, fez questão de fazer um “pente fino” nos funcionários e familiares quando viu a possibilidade concreta de vencer a eleição em 2018.
Bolsonaro sempre foi um personagem de si. Tem em Queiroz um fiel escudeiro há décadas. E deu a ele a função de tocar esse esquema de corrupção no clã – até demiti-lo há 15 dias do segundo turno das eleições e escondê-lo na comunidade de Rio das Pedras, comandada por milicianos sob as armas do Escritório do Crime.
Mais do que Flávio, Bolsonaro – que já havia “empregado” no próprio gabinete o ex-sogro, a ex-sogra e a filha de Queiroz, que davam expediente tal como a Wal do Açaí – sabe quem comanda esse esquema de corrupção de rachadinha no clã.
Por isso, em seu pente fino na organização criminosa, deixou até mesmo o amigo e braço direito, diagnosticado com câncer, no caminho.
Porém, entre aqueles que compraram seu discurso e sua conduta, que lhe rendeu tamanha popularidade e permitiu que chegasse à presidência, cobra-se um alto preço pela traição e falta de lealdade. Bolsonaro também sabe disso, tanto quando Queiroz e Adriano Nóbrega, chefe do Escritório do Crime.