Por Carlos Castilho, para Observatório da Imprensa –
O título bem que poderia ser a atualização do velho dito “mais perdido que cego em tiroteio”. A desorientação é a característica comum e o sinal de que já estamos vivendo o que pode ser definido como “guerra da informação”. Cada vez mais os conflitos modernos tendem a ser decididos por quem maneja a informação, uma arma mais eficiente, ampla e duradoura que os mísseis ou balas.
A desorientação é o estágio inicial e obrigatório da “guerra da informação” porque gera insegurança, que por sua vez alimenta a irritação, as catarses e os confrontos. A guerra da informação não tem fronts porque a desorientação nos leva a confundir quem são os aliados ou os adversários. Na maioria dos casos, a identificação é equivocada dando origem a atritos desnecessários ou injustificados.
Os conflitos gerados por desorientação informativa podem surgir em qualquer lugar ou grupo social porque são alimentados por percepções diferentes e pela ausência de compreensão mútua. Mas a causa principal está no nosso desconhecimento sobre como captar e passar adiante os dados que recebemos.
Nisto é fundamental distinguir o dado bruto da informação processada. Dado bruto são os números, fatos, eventos e notícias que recebemos pela imprensa, redes sociais, parentes, amigos e conhecidos. Há duas atitudes diante de um dado: ele nos ajuda a ter uma compreensão básica de quem o enviou, quando é necessário distinguir os elementos objetivos dos subjetivos. Numa notícia de jornal, o elemento objetivo pode ser o anúncio da alta da gasolina. A parte subjetiva, ou oculta, fica por conta da conjuntura do anúncio e da relevância ou não atribuída pelo jornal ao fato objetivo, por exemplo.
Informação é o dado recebido, processado por uma pessoa e passado adiante. Ela incorpora o contexto cultural, social, político e econômico de quem a transmite. Quando lemos um jornal ou assistimos a um telejornal recebemos dados, mas quando comentamos a notícia estamos transmitindo uma informação. Um mesmo fato pode ser dado ou informação, dependendo da posição do indivíduo, como receptor ou transmissor.
A diferença é sutil e pode parecer supérflua, mas é importante porque nos ajuda a reduzir os efeitos da desorientação noticiosa, provocada pela imprensa, redes sociais e formadores de opinião. Ao lermos uma noticia de jornal como dado, priorizamos o que ela tem de concreto, real e objetivo. É como se recebêssemos uma conta de luz. Ali estão um valor e uma data. A conta só terá algum significado depois que compararmos o valor com o de meses anteriores e situarmos a data em nosso orçamento doméstico. Aí a conta vira informação porque vai orientar nossas ações futuras. Quando não separamos dados e informações podemos reagir irritados a um aumento da conta antes de avaliarmos se ele é ou não justificado.
A diferença entre dado e informação nos ajuda a separar fatos de emoções. Há um fato objetivo que é a desorientação provocada pela avalancha de versões jornalísticas diferentes sobre um mesmo fato, publicadas na imprensa e nas redes sociais. Trata-se de um fenômeno com o qual teremos que conviver durante algum tempo, até que sejam desenvolvidos sistemas de triagem mais eficientes e rápidos para lidar com a avalancha informativa.
A “guerra de informação” é alimentada pela desorientação, mas deflagrada pelamanipulação de percepções e emoções. Quando deixamos de examinar um dado com a frieza que a sua natureza objetiva impõe, acabamos misturando a realidade com o que gostaríamos que fosse real. Esta mistura gera inconformismo e revolta.
O leitor recebe notícias como dados, mas o jornal as publica como informação, ou seja, incorpora a ela os significados e contextos conforme os interesses e a conjuntura empresarial. Assim, a imprensa transmite a sua visão, o que não necessariamente significa que esteja reproduzindo a realidade. Só que o leitor não foi educado para distinguir um dado de uma informação. A imprensa paga o preço dessa incompreensão; e, se não orientar o público levando em conta as percepções de leitores, ouvintes, telespectadores e internautas, manterá o tiroteio noticioso e será corresponsável pela “guerra da informação”.
Aos leitores: Minha internet foi normalizada e a voltarei a responder os comentários postados no Código.