Mais uma peça comprova motivação política da morte de Marielle

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A caixa preta dessas investigações está com o Ministério da Justiça, especialmente os relatórios dos serviços de espionagem

Por Luis Nassif, compartilhado de seu Blog




Coube ao repórter Ítalo Nogueira, da sucursal da Folha no Rio de Janeiro, a descoberta da peça que faltava para ligar o matador Ronnie Lessa ao grupo político que planejava o golpe no país. A saber, o esquema Bolsonaro e filhos.

Segundo a reportagem, desde 2006, o matador de aluguel pesquisava bases de dados da empresa CCFácil, investigando políticos e personalidades de esquerda. O único senão da reportagem é atribuir o mando aos irmãos Brazão. Para eles, interessava apenas os conflitos de terra e a disputa política de regiões tomadas pelas milícias.

“Para a Polícia Federal, as consultas que miravam políticos do PSOL reforçam a suspeita de que o homicídio da vereadora foi o ápice das desavenças entre os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, apontados como mandantes do crime, e o partido. Elas foram feitas, segundo Lessa, a pedido dos dois. Os irmãos negam envolvimento no crime”.

A investigação vai muito além, fiscalizando personalidades nacionais que lutavam contra a conspiração do impeachment ou que integravam a Comissão da Verdade – caso do deputado Wadih Damous – cantores, artistas, políticos de outros estados.

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O ex-deputado Wadih Damous (PT), por exemplo, teve dados consultados em outubro de 2013 e em março de 2016. No primeiro período ele atuava como presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro. No segundo, já era parlamentar e atuava principalmente contra o impeachment de Dilma. Qual a relação com os irmãos Brazão? 

O repórter anotou que o delegado Orlando Zaccone foi investigado por três vezes, a última em 2018, quando se candidatou a deputado estadual pelo PSOL. Passou ao largo da investigação de 2014. Na época, Zaccone estava empenhado em elucidar o assassinato de Amarildo, investigando o ex-PM da UPP da Rocinha, major Edson Santos, acusado de torturar e matar o pedreiro Amarildo de Souza em 2013. 

Na mesma época, o deputado estadual Flávio Bolsonaro foi por três vezes à tribuna da Assembleia Legislativa atacando Zaccone, acusando-o de protetor de traficantes. Na época, Zaccone não havia fundado o Movimento dos Policiais Antifascistas nem pretendia carreira política. A única razão foi tentar penetrar no mundo obscuro da política miliciana dos Bolsonaro.

Ou seja, desde 2013, Lessa já estava a serviço do grupo político que tentou o golpe.

A caixa preta dessas investigações está com o Ministério da Justiça, especialmente os relatórios dos serviços de espionagem acantonados no Ministério e na ABIN, no governo Bolsonaro.

1) Quantos Relatórios de Inteligência foram produzidos no Ministério da Justiça desde 2018 até hoje? 

2) Quantos desses relatórios dizem respeito a partidos políticos, organizações da sociedade civil ou movimentos sociais? E quantos desses relatórios deram origem a investigações criminais oficiais? 

3) Quantos Relatórios de Inteligência estão sem classificação no Ministério da Justiça nos termos da Lei de Acesso à Informação – LAI e porquê? Informar o ano de produção dos relatórios não classificados. Quem são os responsáveis pelo descumprimento da LAI que obriga a classificação dos documentos? Quantos processos administrativos já foram instaurados para averiguação das responsabilidades pelo descumprimento da LAI e quantos já foram finalizados?

A abertura dessa caixa preta ajudará a elucidar os preparativos para a grande conspiração nos anos 10, que resultou na eleição de Bolsonaro e, antes dele, no assassinato de Marielle.

Seria importante que a PF deixasse de lado essa versão inconsistente de que os Brazão foram os responsáveis ou, ao menos, os únicos responsáveis pela morte de Marielle.

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