“Máquina do Tempo”, inquietante e perturbador.

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Fazia um bom tempo que um filme não me perturbava tanto como “Máquina do Tempo”. Certamente ele não teria este efeito há – digamos – uns 10 anos, mas a recente guinada que o mundo deu para a direita acabou tornando a ficção da obra extremamente documental.

Por Celso Sabadin, compartilhado de Planeta Tela




Antes de mais nada, é bom deixar claro que não se trata de mais uma adaptação cinematográfica da famosa obra de H.G. Wells. Claro, neste novo filme também existe uma “máquina do tempo”, mas numa outra pegada. No roteiro de Andrew Legge e Angeli Macfarlane, duas irmãs inglesas (vividas por Stefanie Martini e Emma Appleton) desenvolvem a invenção do título brasileiro do filme um pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Trata-se de um aparato que suas inventoras batizam de Lola (título original do longa) e que tem o poder de captar ondas de rádio e de televisão vindas do futuro.

A premissa não é tão fantasiosa assim, posto que há hipóteses científicas que defendem a ideia de que tudo o que foi transmitido no mundo, em qualquer tempo, através de ondas de radiofônicas ou televisivas teoricamente poderia ser recuperado. Em outras palavras, com o receptor adequado, seria possível ouvir e ver novamente programas há décadas já transmitidos.

Se pode valer para o passado, pode também para o futuro, e é assim que as irmãs, em 1938, passam a ver a televisão doa próximos anos, onde conhecem ícones como David Bowie, Bob Dylan, Nina Simone e vários outros.

Contudo, a chegada da Segunda Guerra muda a perspectiva de Lola. As protagonistas passam a colaborar com o exército britânico, ouvindo notícias dos próximos dias e contribuindo de forma decisiva para mudar os rumos do conflito a favor dos ingleses. Mas é evidente que algo dará errado, pois se as coisas não dão errado, não tem filme.

Não é exatamente o registro da ficção científica que me perturbou em “Máquina do Tempo”, mas o da política. As cenas da ascensão do nazismo são nada menos que apavorantes. É certo que as adaptações audiovisuais do livro “O Homem do Castelo Alto”, de Philip K. Dick, já abordaram o tema antes, mas aqui é diferente, e basicamente por dois fortes motivos. O primeiro: “Máquina do Tempo” utiliza a estética do “found footage”, ou seja, aquela que fantasia que estamos assistindo a pedaços de filmes verdadeiros que estavam escondidos em algum lugar qualquer e que agora foram encontrados, dando origem ao produto cinematográfica que passa diante dos nossos olhos. Tipo “A Bruxa de Blair”, sabe? Claro que sabemos ser mentirinha ficcional, mas a realização do longa é tão apurada que exala uma apavorante sensação de verdade, através da imitação praticamente perfeita da estética dos cinejornais da época.

Aliás, câmeras e lentes dos anos 30 e filmes em película foram utilizadas nas filmagens, mais ou menos como “O Segredo de Berlim”, de Steven Soderbergh, já havia feito em 2006. O resultado impressiona.

E o segundo motivo, meio que já citado, tem a ver com o nosso momento político. As atrocidades fascistas e nazistas saíram dos armários do passado para assombrar nosso presente. Se antes nós víamos obras sobre este tema com interesse histórico e prazer cinematográfico, hoje nós os assistimos com medo deste perigo real e imediato.

Produzido por Irlanda e Reino Unido, “Máquina do Tempo” é uma ficção científica e também um longa de guerra. Mas, antes de tudo, é um filme de terror. Muito terror.

Uma inquietante estreia em longas do diretor Andrew Legge.

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