Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra lamenta falecimento do grande e histórico jornalista Marcelo Oikawa, na noite do dia 5 de setembro.
Compartilhado de MST
Recebemos com muito pesar a notícia do falecimento do grande e histórico jornalista Marcelo Oikawa, na noite do dia 5 de setembro. Apoiador do MST e autor do livro “Porecatu: a Guerrilha que os Comunistas Esqueceram“, faleceu aos 72 anos, em Curitiba, por agravamento de problemas de saúde.
Oikawa nasceu na cidade de São Paulo, mas cresceu e construiu a primeira fase da sua trajetória militante e profissional em Londrina, região norte do Paraná. Em plena ditadura militar e ainda muito jovem, atuou na União Londrinense dos Estudantes Secundaristas (ULES).
Na universidade, atuou ativamente na criação e produção do jornal estudantil “Levanta sacode a Poeira e dá a volta por cima”, quando era estudante da primeira turma de Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O “Poeira” foi um símbolo de resistência do movimento estudantil contra o regime militar, e instrumento de reflexão sobre a realidade universitária e do país.
É a partir deste território e desta prática militante que Oikawa dedicou duas décadas para pesquisar e escrever sobre a Guerrilha de Porecatu (1944 a 1951), uma das tantas batalhas populares que marcam a formação do campo paranaense, mas que ficaram esquecidas ou distorcidas pela história oficial. A obra cumpriu, e segue cumprindo, o objetivo de sistematizar e tornar mais conhecida a guerrilha de posseiros, organizada com apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que teve como grande resultado a assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais, e que somou no fomento do que viriam a ser As Ligas Camponesas.
É também no período da produção desta obra que Oikawa conhece o MST mais de perto. Acompanhado por dirigentes do Movimento, ele visitou “os cenários da guerrilha”, que hoje são territórios ocupados por famílias Sem Terra.
O lançamento do livro foi marcado de simbologia, por ter ocorrido durante a 10a Jornada de Agroecologia, para um público de mais de 4 mil camponesas e camponeses, militantes, estudantes e pesquisadores, no ginásio da UEL, em 2011. O local era o mesmo onde Oikawa havia se formado jornalista e militante, e também estavam reunidos ali muitos herdeiros da história que ele havia resgatado. Foi um marco para a recuperação e a valorização da trajetória de luta pela terra no Paraná.
Poucos meses antes de falecer, Oikawa, sempre ao lado de sua companheira Jacira, havia procurado o MST para produzir uma reedição da obra. A voz calma e compassada era acompanhada do entusiasmo por contar a continuação daquela luta de 70 anos atrás. Apesar da saúde já debilitada, o jornalista planejava visitar os acampamentos e assentamentos do MST na região da guerrilha, para conhecer de perto a nova fase daquelas terras, agora liberadas do latifúndio.
Oikawa também exerceu o jornalismo em órgãos públicos do Estado, e nos veículos Novo Jornal, Folha de Londrina, Panorama, e como correspondente do Jornal do Brasil. Também publicou as obras “Fazimento de uma cidade”, em 2017, e “Os Alquimistas de Curitiba”, em 2022; e o livro de poesias “Marés – A Poesia Bissexta dos Paranaenses”, também em 2022.
Neste momento de despedida, manifestamos nossa gratidão por todo trabalho e militância de Marcelo Oikawa, dedicado à pesquisa, à memória e à narrativa das lutas populares. Estes serão legados eternos, de grande contribuição para o povo brasileiro.
Expressamos nossos profundos sentimentos à família de Marcelo, em especial sua esposa Jacira e seu filho Pedro, e a todos os amigos e companheiros/as.
Direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Paraná (MST no PR)