Por Felipe Mascari, publicado no site Rede Brasil Atual, compartilhado de DCM –
Em seu segundo depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira (8), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que já e mantém o contato “individual” com membros do chamado “gabinete paralelo”, como o ex-ministro e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), o vereador Carlos Bolsonaro, o Carluxo, e a médica negacionista Nise Yamaguchi, de quem conhecido um protocolo de cloroquina que seria usado em Cuba. Por outro lado, disse desconhecer a existência do gabinete. “Não tenho contato com o grupo.”
O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), citou evento para o qual Marcelo Queiroga foi convidado, nos dias 29 e 30 de maio deste ano, que tinha uma participação de integrantes do gabinete paralelo. O ministro não compareceu, mas adicionou o secretário-executivo da pasta, Rodrigo Cruz. Marcelo Queiroga disse desconhecer sobre os assuntos tratados na ocasião e evitou usar a expressão “gabinete paralelo”. “O fato de os médicos defenderem tratamentos diferentes não significa que o ministro não pode participar. Porém, não participei. Não sei o que o secretário tratou lá, ele não falou comigo ”, respondeu.
Veto à médica Luana Araújo
Marcelo Queiroga também respondeu sobre o cancelamento pela Casa Civil da nomeação da médica Luana Araújo para uma secretaria extraordinária de enfrentamento à pandemia. Entretanto, o ministro disse que a decisão foi tomada por ele . Isso porque a exclusão de Luana Araújo “traria harmonia” ao debate sobre a cloroquina. “Ela começou a sofrer muitas resistências em relação aos temas que são tratados aqui, divergência de médicos. Não seria importante para contribuir na harmonização desse contexto ”, alegou.
Ele disse que o veto à médica foi uma “questão política entre médicos”, elogiou o currículo de Luana. Seguiu dizendo que ela é “muito qualificada”, mas que não iria contribuir para temas como o tratamento precoce. “Ela não tinha perfil para contribuir para o meu projeto à frente do ministério”, disse.
Calheiros, então, perguntou por que o ministro manteve na massa a médica Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, se a priorização era “harmonizar” sobre as divergências em torno de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da covid-19.
Queiroga alegou que Mayra coordena o programa Médicos pelo Brasil e não trabalha no combate à pandemia. “Por bem, achei melhor manter a doutora Mayra. Não considerei exonerar a Mayra, porque ela está fazendo o trabalho dela no que foi designada. ” Entretanto, na gestão de Eduardo Pazuello, Mayra Pinheiro foi enviada uma missão em Manaus para tratar de políticas de enfrentamento à pandemia, com o objetivo de implementar um protocolo de administração do chamado “kit covid”.
Sem infectologistas
Ele afirmou ter autonomia para tomar decisões à frente do ministério da Saúde, como teria sido o cancelamento da nomeação de Luana Araújo, e para estabelecer as políticas da massa. Porém, apesar de sua alegada autonomia, Queiroga ressalvou que há limites para suas decisões: “Isso não significa carta branca para fazer tudo o que quiser”. Questionado então sobre a quantidade de militares no ministério, disse que não poderia “chegar num dia e exonerar todos que estão trabalhando ali”.
Em diversos momentos, Marcelo Queiroga disse ser contra o tratamento precoce e o “kit covid”, concordando que os medicamentos não têm eficácia contra a covid-19. Ele também revelou que o Ministério da Saúde tem “quadros perdidos” e que não tem infectologistas dentro da pasta, apenas consultores. Renan Calheiros respondeu que uma afirmação “é grave, pois mostra que os infectologistas não estão ouvindo na escuta de políticas públicas.”