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Bolsonaristas perseguem desde a últiama sexta-feira (20/11) a jornalista Maria Teresa Cruz, colaboradora e ex-editora da Ponte Jornalismo, por uma publicação em apoio à revolta contra a rede de supermercados Carrefour. Ela recebeu ameaças de morte.
As ofensiva teve início com uma publicação em que Maria Teresa criticava quem chamava os manifestantes de “vândalos”. Depois, em outra mensagem exaltava a revolta de manifestantes ao depredarem uma unidade da rede na rua Pamplona, no centro expandido de São Paulo.
No post, a jornalista diz ter visto as cenas e teve satisfação pois, “quando o diálogo não é possível, tem que quebrar tudo”. A fala gerou a fúria bolsonarista.
A primeira a instigar seus seguidores a perseguir a repórter é uma pessoa de nome Cláudia que usa o perfil @draclaudiabr. Ela chamou Teresa e outra pessoa que também apoiou os protestos de “lixos humanos”. A partir de Cláudia, a publicação ganhou espaço na rede de bolsonaristas, como Otávio Fakhouri, Leandro Ruschel e Rodrigo Constantino.
Os dois primeiros são investigados no STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta ligação com financiamento de fake news. Ambos são colunistas do Jornal da Cidade.
Constantino era colunista de veículos em que propagava opiniões de extrema-direita, como Jovem Pan, quando acabou demitido por comentário em relação ao caso de estupro denunciado pela influencer Mariana Ferrer.
Em sua fala durante uma live, o jornalista disse em seu canal do YouTube que não denunciaria caso sua filha fosse vítima de estupro. “Eu vou dar esporro na minha filha, que alguma coisa ali ela errou feio”, declarou.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), outra integrante da rede de defensores do bolsonarismo, publicou em suas redes sociais que protocolou na PGR (Procuradoria-Geral da República) uma representação contra a publicação da jornalista. Ela instiga seus seguidores a comentarem na publicação caso concordem com sua atitude.
Leandro Ruschel publicou o tweet de Maria Teresa Cruz o classificando como “incitação ao crime”. Um perfil, de nome Fascisto Cloroquino, ameaçou Teresa usando como referência a morte do jornalista Tim Lopes, sequestrado e assassinado no Rio de Janeiro em 2002. Tim foi torturado e queimado vivo.
“Pessoas como você são as que morrem no morro do baiano, dentro de um pneu de caminhão, jornalistinha de Leblon [bairro na zona sul do Rio]”, escreveu o perfil @william95410506.
À Ponte, Maria Teresa Cruz explicou ter percebido as primeiras perseguições na noite de sexta-feira, cerca de três horas depois de ter publicado o tweet. Daí por diante, a rede bolsonarista não parou.
“Imaginei que alguém com bastante seguidores deve ter retweetado e, de repente, notificações começaram a subir rápido. Abri para ver e já tinham os primeiros xingamentos”, explica, dizendo ter rebatido uma mensagem ou outra.
No dia seguinte a onda aumentou. Foi quando o tweet sobre o fogo no Carrefour ganhou prioridade nos ataques. “O Otávio Fakhouri começou a me chamar para um embate. O Ruschel pediu investigação para a PF e o Twitter bloquear meu perfil”, conta Teresa.
As ações evidenciaram à jornalista como funciona a rede de ataques pró-governo e extrema-direita: em forma de ondas, com perfis falsos e propagadores de fake news agindo em conjunto com figuras famosas que defendem Jair Bolsonaro e seu governo.
Teresa decidiu fechar seu perfil do Twitter por garantia. No entanto, como repórter freelancer, isto impacta na divulgação de seus trabalhos e, consequentemente, na sua renda futura.
“As ofensas fazem mal, mas não me tocam tanto. O problema são as ameaças de morte, incitação de algum crime quando estava apenas manifestando a minha opinião pessoal”, afirma.
A repórter, que atuou por três anos como editora da Ponte Jornalismo, alerta para que não se confunda as ondas de ataques com liberdade de expressão.
“Nenhum extremismo é bom. Precisamos separar quem está na esfera democrática, propõe diálogo, e quem não está. E são esses caras”, explicando o fechamento do perfil como forma de “tentar estancar essa hemorragia de ódio”.