Publicado em Viomundo –
Da Coluna do Ricardo Setti (vídeo acima), em Veja, que titulou:Vídeo para refrescar a memória: A profunda ternura de Dilma pela ditadura de Cuba
Do senador Aécio Neves, durante a campanha eleitoral, fazendo coro com as denúncias da extrema-direita: “O seu governo optou por financiar a construção de um porto em Cuba, gastando R$ 2 bilhões do dinheiro brasileiro, enquanto os nossos portos estão aí esperando”.
Dos deputados Fernando Francischini (Solidariedade-PR) e Rubens Bueno (PPS-PR): O líder oposicionista [Bueno] entende que só se pode presumir a existência de irregularidades no empréstimo para o porto cubano e beneficiar as campanhas eleitorais dos aliados do governo de Dilma Rousseff. “São negócios escusos para arrecadar dinheiro para azeitar a máquina do PT”, acusou. Francischini concorda com ele. “Não é possível ter investimento fora do país, sem interesse nacional e com falta de transparência envolvendo dinheiro público, com juros subsidiados, com investimentos do Tesouro”, criticou. A explicação se houve escolha com critérios técnicos [da Odebrecht] para a construção do porto é escondida, na opinião dele, porque não existiram esses tipos de parâmetros. “Não tem critério. O critério é quem doa mais para a campanha do PT”, disparou.
Do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), em entrevista ao Canal Rural: “Esse caso do porto é de estarrecer”, denunciando empréstimos do BNDES a outros paises e afirmando que no caso de Mariel a geração de empregos seria “lá em Cuba”.
Nota oficial do PSDB a respeito: “Os brasileiros acompanham, indignados, mais um périplo da presidente Dilma ao redor do mundo. Especial indignação causa saber que dinheiro dos brasileiros foi empregado para erguer um moderno porto em Cuba. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) financiou mais de 70% de um empreendimento de quase R$ 1 bilhão em Mariel, nas proximidades de Havana”.
Rodrigo Constantino, em seu blog: “O governo Dilma fez sua escolha: o porto cubano é mais importante do que nossa própria infraestrutura. Continuaremos convivendo com enormes filas para escoar nossa produção, com um custo elevado de logística afetando a produtividade da nossa economia. Mas Fidel e Raúl, a dupla de tiranos assassinos, terão um porto novo em folha graças aos recursos brasileiros, para exportar sabe-se lá o quê”.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, desconstruiu nesta terça-feira (27) durante audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, vários argumentos de cunho eleitoreiro da oposição acerca do financiamento, pelo banco, de serviços brasileiros de engenharia para a realização de obras em outros países. Primeiramente, conforme explicou por meio de esquema gráfico, o BNDES não repassa dinheiro a governo algum onde a obra será realizada. Os recursos financiam, em moeda nacional, as empresas brasileiras que ganharam a licitação da obra no país estrangeiro. Essa informação, por si só, já desmonta o principal argumento da oposição, segundo o qual o governo brasileiro estaria deixando de investir no Brasil para “doar” ou “mandar” dinheiro para Cuba.
Coutinho mostrou que, antes de tudo, trata-se de um procedimento que gera empregos no Brasil e movimenta uma vasta cadeia produtiva nacional de bens e serviços, envolvendo também uma infinidade de outras pequenas empresas brasileiras que se beneficiam com a transação. O presidente do BNDES explicou ainda que, como pagamento do dinheiro repassado àquelas companhias nacionais que ganharam a licitação, o país onde será construída a obra paga em dólar ao Brasil. Ainda, segundo Coutinho, as linhas de crédito para apoiar serviços de engenharia no exterior são um mercado “concorridíssimo” e são praticadas por todos os países que têm bancos de fomento. Disse também que a modalidade praticada pelo Brasil ainda é “conservadora” se comparada às dos países desenvolvidos e da China. “Eles financiam, inclusive, gastos locais”, informou.
O dirigente mostrou dados que revelam o grau de investimento de outras nações em obras de engenharia fora de seus territórios. A China desembolsou entre 2008 e 2012 um total de US$ 45,2 bilhões; os Estados Unidos, 18,6 bilhões; a Alemanha, US$ 15,6; e a França, US$ 14,6 bilhões. No mesmo período, o Brasil financiou US$ 2,24 bilhões, ocupando a oitava colocação na tabela apresentada, atrás ainda da Índia, do Japão e do Reino Unido.
O porto de Mariel é um colosso. Ele é considerado tão sofisticado quanto os maiores terminais do Caribe, os de Kingston (Jamaica) e de Freeport (Bahamas), e terá capacidade para receber navios de carga do tipo Post-Panamax, que vão transitar pelo Canal do Panamá quando a ampliação deste estiver completa, no ano que vem. A obra, erguida pela Odebrecht em parceria com a cubana Quality, custou 957 milhões de dólares, sendo 682 milhões de dólares financiados pelo BNDES. Em contrapartida, 802 milhões de dólares investidos na obra foram gastos no Brasil, na compra de bens e serviços comprovadamente brasileiros. Pelos cálculos da Odebrecht, este valor gerou 156 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no País.
A obra “se pagou”, mas o interesse do Brasil vai além disso. Há quatro aspectos importantes a serem analisados.
O primeiro foi exposto por Dilma no discurso feito em Cuba. O Brasil quer, afirmou ela, se tornar “parceiro econômico de primeira ordem” de Cuba. As exportações brasileiras para a ilha quadruplicaram na última década, chegando a 450 milhões de dólares, alçando o Brasil ao terceiro lugar na lista de parceiros da ilha (atrás de Venezuela e China). A tendência é de alta se a população de Cuba (de 11 milhões de pessoas), hoje alijada da economia internacional, for considerada um mercado em potencial para empresas brasileiras.
Esse mercado só será efetivado, entretanto, se a economia cubana deixar de funcionar em seu modo rudimentar atual. Como afirmou o subsecretário-geral da América do Sul do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Antonio José Ferreira Simões, o modelo econômico de Cuba precisa “de uma atualização”. O porto de Mariel é essencial para isso, pois será acompanhado de uma Zona Especial de Desenvolvimento Econômico criada nos moldes das existentes na China. Ali, ao contrário do que ocorre no resto do país, as empresas poderão ter capital 100% estrangeiro. Dono de uma relação favorável com Cuba, o Itamaraty está buscando, assim, completar uma de suas funções primordiais: mercado para as empresas brasileiras. Não é à toa, portanto, que o Brasil abriu uma nova linha de crédito, de 290 milhões de dólares, para a implantação desta Zona Especial em Mariel.
Aqui entra o terceiro ponto, a localização de Mariel. O porto está a menos de 150 quilômetros do maior mercado do mundo, o dos Estados Unidos. Ainda está em vigor o embargo norte-americano a Cuba, mas ele é insustentável a longo prazo. “O embargo não vai durar para sempre e, quando cair, Cuba será estratégica para as companhias brasileiras por conta de sua posição geográfica”, disse à Reuters uma fonte anônima do governo brasileiro. Tendo em conta que a população cubana ainda consistirá em mão de obra barata para as empresas ali instaladas, fica completo o potencial comercial de Mariel.