Por Zeca Ferreira, cineasta –
Me parece mais do que pertinente discutir representatividade na hora de contar essa que talvez seja a mais emblemática das historias brasileiras nesse princípio de século XXI. Mas confesso que parei algumas casinhas antes, pensando se é pertinente pensar a espetaculização dessa história nesse momento exato. Depois do choque que foi a execução monstruosa da Marielle, vem o estado de choque continuado de assistirmos, inertes, ao mais escancarado caso de obstrução à justiça de que se tem notícia.
Provas foram perdidas, imagens foram apagadas, toneladas de noticias falsas e aviltantes foram despejadas do mesmo esgoto que tomou de assalto o poder, testemunhas foram forjadas, o presidente da República e um governador de Estado se acusam mutuamente.
Um espetáculo de terror que a gente assiste ha dois anos sem solução à vista e agora ficamos discutindo sobre quem vai levar às telas essa história pela metade.
Que toda essa energia fosse capaz de pressionar que a história inteira fosse finalmente revelada, que é o que realmente deveria importar.
Por falar em cancelar, não cancelemos as pessoas porque errar é humano. Mas cancelem esse projeto por agora e nos mexamos para que março não siga sendo mês de rememorar uma história pela metade, uma frustração do tamanho de um país.