Marielle, o medo do fascismo

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, no Facebook

Em vida, Marielle Franco foi uma lutadora das causas populares e dos direitos para todos. Foi gigante dentro dos limites do Rio de Janeiro. Com seu brutal assassinato, a vereadora carioca tornou-se um dos casos raros de personalidades que se tornam mais relevantes para a História depois da morte.

Hoje, Brasil e boa parte do mundo conhecem mais seu combate pelos pobres, contra o racismo e a homofobia. Mas não para aí o legado da militante do PSOL. Cada vez mais, detalhes das relações espúrias entre milicianos, Polícia, PF, MP-RJ e a família Bolsonaro são expostos publicamente na aparentemente proposital interminável apuração sobre quem matou e quem mandou matar Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.




Desde o início da conturbada investigação, já ficou clara uma linha que ligava criminosos e corrupção. Foram imagens do dia do assassinato que desapareceram misteriosamente, plantação de pistas falsas, perícias tardias feitas depois em pouquíssimas e suspeitas horas, troca de delegados, promotora bolsonarista militante e… proximidade inegável entre milicianos acusados da execução bárbara e covarde com a família medieval que assumiu a Presidência da República.

A relação dos Bolsonaros com milicianos é apenas um quesito no vasto cardápio de práticas condenáveis na vida e nos gabinetes parlamentares do clã. Nomeação de mais de uma centena (isso mesmo) de parentes como funcionários, outro tanto de fantasmas pagos com dinheiro público, rachadinhas e especial apreço por abrigar milicianos e seus parentes com salários oriundos do erário público.

Tudo nos mandatos parlamentares dos Bolsonaros é um escândalo que em país sério renderia, no mínimo, cassação de mandatos. Normalmente, também em prisão. Mas nada é tão grave como as suspeitas de envolvimento no assassinato de Marielle Franco.

Não parece ser casual o ódio que o nome Marielle causa no bolsonarismo. Talvez mais preciso seria trocar a palavra ódio por pavor. A placa quebrada, as manifestações ofensivas e ultrajantes em redes sociais, a histeria de Jair Bolsonaro quando, sem ainda o nome de Carlos Bolsonaro ter sido relacionado como eventual suspeito, gritou a denúncia do “querem envolver um filho meu no caso” etc.

Sabe a história do sujeito vítima de um ataque de flatulência brava que grita “alguém peidou”? Parece. O último capítulo dessa tragédia que abate diretamente as famílias das duas vítimas é a tentativa de federalização do caso, ou seja, entregar a investigação para o notório Sérgio Moro.

Se não há dúvidas sobre corrupção e incompetência, deliberada ou não, da Polícia carioca na apuração, Moro na jogada é a garantia preliminar de que nada passará perto do clã Bolsonaro, nem a mais inocente investigação sobre vínculos entre milicianos e a turma no Poder. É uma situação que no popular seria definida como “no mato sem cachorro”.

Parece impossível, no Brasil dos milicianos triunfantes, uma apuração séria e isenta sobre o caso Marielle, mas dar de bandeja a encrenca para Moro é sem dúvida o pior caminho. Mais central, quando é que a cidadania vai se atentar ao absurdo medieval que é conviver com um presidente da República que tem entre seus valores no mínimo conviver e homenagear assassinos de aluguel e gente que vive de explorar o crime e o medo gerado por ele?

Até quando o Brasil vai manchar sua História com a complacência diante de fatos comprovados e, talvez, outros ainda mais graves a serem comprovados? Até quando a rima entre Poder e morrer será consentida? A escalada fascista atinge o ápice.

Temos agora, entre os absurdos diários, um negro racista na Fundação Palmares. Um bom ponto para dar cabo a essa era medieval é exigir cada vez mais alto o fim do caso Marielle. Mas epílogo sério, sem palhaçada ou historinha.

Afinal, não pode ser sem motivo que eles temem tanto o fantasma da negra guerreira que veio da Maré.

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