Por Zeca Ferreira, cineasta
É meio impressionante como os mais diferentes atores da extrema direita se mobilizam contra a Marielle e qualquer movimento no sentido de elucidar aquele terrível assassinato. Deltan Dallagnol – agora com bastante tempo livre – e Sergio Moro passaram o dia de ontem com os dedinhos frenéticos tentando usar a delação que começa a desatar os nós da investigação do assassinato de Marielle para desqualificar as críticas à operação lava jato. Como quem diz: “agora vocês são a favor de delação premiada?”
Certo, vamos lá, pra quem não entendeu: a delação não exime o delator de provar o que diz. Ela é um ponto de partida importante, uma descrição de crime que precisa ser atestada com outras evidências.
No caso do Elcio, a PF já começou a montar o quebra cabeças a partir dessa informação. O trajeto descrito dos assassinos, por exemplo, já começou a ser comprovado. O taxi de cooperativa que os levou de volta para a Barra da Tijuca depois de se desfazerem do carro do crime já foi identificado e o trajeto confirmado. Outros pontos seguem sendo investigados. Então isso prova que tudo o que foi dito é verdade? Claro que não, mas pra isso existe uma investigação.
E o que a Lava Jato fez? Em lugar de partir de um delator para desbaratar e comprovar um esquema criminoso, a Lava Jato construiu uma teia gigantesca de delações e prêmios, onde a tal comprovação se dava nem sempre em torno de provas (obrigatório), mas no cotejar com outras delações. Assim foi, por exemplo, no mais famoso caso da Lava Jato, que levou para a prisão – depois anulada – o presidente Lula.
O que Deltan e Moro tentam agora é descredibilizar a investigação de um crime de interesse nacional (e internacional) com base no próprio descrédito. Vergonha alheia define.
Por fim, não bastasse o exercício de auto-humilhação, importante observar que o próprio ex juiz e futuro ex senador tem implicações (e possível interesse) no caso. Afinal, grande parte do movimento de sabotagem dessa investigação se deu durante a sua passagem pelo ministério da justiça, com atuação direta sua. E não é por acaso que o enorme avanço nas investigações anunciado ontem se deu após a troca de governo.
Imagem: mural sobre Marielle num escadão no bairro de Pinheiros, em São paulo