Redação– E, então, “jornalista”, seu editor chega para você e diz: “Nada de pauta positiva para o lado dos grevistas. Aliás, a palavra greve está proibida. É manifestação. Vamos mostrar que eles são agressivos, vagabundos e que não estão nem aí com a população”.
E você responde: “deixa comigo”
E o chefe continua: “Então vai para a rua e me traz matéria de carro incendiado, de fogo em pneu, de fechamento de estrada. Ah, e vai para os pontos de ônibus e mostre o povo sofrendo. Nada de entrevista com quem é a favor da gre…, da manifestação”.
E, você quase batendo os coturnos, tranquiliza a chefia: “Deixa comigo, chefe. Vamos fazer um ótimo trabalho”.
Pergunta: “ótimo trabalho para quem, para o seu patrão, que é elite e vive “assim, ó” com os donos do poder golpeado?
E você foi e voltou com farto material, nada sobre o outro lado, nada sobre os motivos que levaram 40 milhões de pessoas a pararem. Nada de ouvir pessoas reclamando do desmonte da Previdência e trabalhista.
Agora, hoje, sua folga, perguntamos: você está de consciência tranqüila? Você acha que está fazendo jornalismo sério?
Nem precisa responder, você sabe que não. E assim segue você, rumo à sabujice total.
Vai tomar uma cervejinha com quem? Ah, com um igual a você. Não é mesmo? Como tomar umas e outras com quem vai criticar seu trabalho de lacaio?
Mas faça um favor à categoria, não conte para ninguém que é “jornalista”, pois você não merece este tratamento. Jornalista pensa, questiona, procura o contraponto. Não é o seu caso. Certo?
PS: Este texto é uma mera ficção. Nada do que está escrito acima aconteceu de verdade. Acredite se quiser.