Claudio Lovato, jornalista e escritor –
Tenho baixa tolerância às relativizações.
Acho que a relativização é uma das maiores armas dos canalhas.
Procuro manter a mente tão aberta quanto possível, não bato palmas para pensamentos simplórios, não vejo a ingenuidade como qualidade, mas nem por isso sou adepto às relativizações. Em certos casos, as considero criminosas.
Um atentado terrorista, por exemplo. Centenas, por vezes milhares de civis inocentes são mortos e alguém sai com algo do tipo: “Sim, é terrorismo, mas como suportar tanta opressão sem reagir”?
Terrorismo é assassinato e todo terrorista é um assassino.
Não dá para relativizar.
Um policial militar encosta escopeta no rosto de um estudante adolescente, dispara um tiro de bala de borracha no olho dele e alguém se apresenta para argumentar: “Alguma coisa o cara deve ter dito para o PM!” Ou: “Como nossa polícia é despreparada…”
Coisa nenhuma.
O policial que faz isso é um psicopata violento, armado e fardado. E ponto final.
Donald Trump é uma excrescência. Um fascista orgulhoso. Um racista empedernido. Dizer que o “establishment”, o “sistema” é que governa os Estados Unidos, e não seu presidente,é uma meia verdade, do tipo que os adeptos da relativização adoram e aproveitam.
Dizer que tanto fazia se Trump ou Hillary Clinton se elegessem é um tremendo equívoco, por mais que ela não fosse o sonho de todos os cultores da paz mundial, entre os quais modestamente me incluo, e quem sabe a diferença entre os partidos Republicano e Democrata entende que isso também não é relativo.
O discurso darelativização oculta elementos que podem ir da simples retórica vaidosa e pretensamente intelectualizada ao interesse político mais pernicioso,destinado a semear a resignação que drena o senso crítico, anestesia a combatividade e aliena.
Fiquemos atentos – lá, acolá e aqui.