Por Adriana do Amaral, jornalista, Bem Blogado
A capital econômica do Brasil, cidade que figura entre as mais importantes do mundo, São Paulo, está à deriva. O atual prefeito, Ricardo Nunes, que herdou o cargo depois da morte do titular, Bruno Covas, e a secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Soninha Francine, a mesma que defende os campings sociais, investem na política higienista a qualquer custo. A internação compulsória, para eles, é a solução para as mazelas da cidade, onde mais de 42 mil pessoas, inclusive famílias inteiras, com crianças, vivem em situação de rua.
Isso, em meio à quarta onda da Covid-19, da volta da inflação e quando as eleições presidencial e legislativa se avizinham. Nesse cenário, mais de 15% da população brasileira passa fome, Mais de 33,1 milhões de brasileiros acordam e dormem de barriga vazia no “país abençoado por Deus e bonito por natureza”.
Na rua, que deveria ser de todos, mas é lar de ninguém, a polícia metropolitana bate, a política militar bate, as equipes de limpeza urbana molham com jatos d’água e o rapa retira os pertences. De alguns um papelão e cobertor, de outros tudo o que cabe num saco plástico, carrinho de supermercado ou carroça.
De uns dias para cá tenho visto homens e mulheres de corpos nus nas ruas, e não apenas nas vias centrais, onde a repressão contra o Povo da Rua é maior. Alguns enrolados por um cobertor barato, daqueles distribuídos pela prefeitura municipal quando o frio se intensifica.
Falta comida, falta vacina, falta respeito, falta tudo para o brasileiro que perde a família, as referências, o amor próprio.
A nova ameaça, somada à hostilidade arquitetônica que impede que corpos cansados se deitem, é a internação compulsória. Tratam o cidadão em situação de rua como cidadãos sem direitos. Para a gestão da cidade de São Paulo eles são um risco à sociedade e a eles mesmos!
Colocam todos no mesmo vazio de ações. Sejam dependentes químicos, pacientes de doenças físicas ou emocionais, órfãos ou vítimas de agressões tantas, mulheres prestes a darem à luz, idosos, adolescentes. As crianças? Ah, elas são constam das estatísticas…
É claro que não há solução fácil, pois as abordagens deveriam ser individuais, com soluções individualizadas. Grande parte das pessoas em situação de rua só quer uma oportunidade: de trabalho, de moradia ou de retorno à sociedade. Muitos perderam os empregos/trabalho; outros perderam as casas durante a pandemia, por falta de renda.
Nesse caos, a exclusão social aumenta. A feiura não vem dos corpos nas ruas, mas na ausência de amor e de iniciativa de quem deveria planejar e zelar pelo bem dos cidadãos.
Aproveito para reproduzir aqui uma conversa de outro dia:
“Nossa, estão aumentando os mendigos e desocupados. Eles estão por toda a parte!”
Eu respondo:
Falta emprego, faltam oportunidades, são vítimas…
E ouço:
“Por que não vão carpir? Fazer faxina? Lavar roupas? Preferem pedir, os preguiçosos.”
Eu me afasto e penso: quem deixaria uma pessoa desconhecida, em situação de rua ou jovem, entrar na sua casa para cortar a grama, carpir o mato, lavar o chão ou a roupa?
É mais fácil julgar, não é mesmo?
Nesse caos, uma fonte de luz irradia na pessoa do Padre Júlio Lancellotti: o religioso incansável em sua luta pelos mais fracos, o povo oprimido. Ele lançou, na quinta-feira (9), a campanha #aporofobianão. Ou seja: não ao ódio ao pobre.
Ele convida:
“Participe dessa campanha, faça um cartaz, uma faixa, qualquer tipo de comunicação e mande uma foto para @observatorioaparofobia,”
Foto da capa do post: Adriana do Amaral