Papo de restaurante: o seu Leo é nordestino, começou garçom e hoje é dono do Picuelta, mais conhecido como o melhor quilo do mundo. Ali, quase todos os dias, eu como de maneira excelente por R$ 22 (com direito a suco e cartão-fidelidade, e veja que estou falando do coração da Vila Madalena, onde R$ 100 numa mesa de boteco é de lei). Com esse preço e essa qualidade, o lugar está cada dia mais lotado.
Hoje, na fila, enquanto ele se revezava com a caixa para dar conta de cobrar os clientes, comentei: “que crise, hein seu Leo?”. Ele riu e respondeu “Aqui não tem tempo pra crise, meu filho”.
Contei que, aqui na nossa lojinha, também não temos do que reclamar, e que vários outros amigos com pequenos negócios vão muito bem, obrigado. “Pois é”, ele emendou, “crise é a gente mesmo quem faz”.
E hoje de manhã, na rádio Estadão, o Alexandre Garcia martelava que o Brasil está em situação idêntica à da Grécia – onde, caso você não saiba, as pessoas não conseguem sacar mais de R$ 300 por dia (isso nas cidades grandes, porque no interior e nas praias há vários lugares sem dinheiro algum).
Na mídia brasileira toda, o discurso é este: CRISE. Das duas, uma: ou tem muita gente dedicada a “fazer a crise”, ou acho que a turma da meritocracia tá precisando tomar umas aulas com o seu Leo.