Professores e entidades que defendem a educação falam que a medida de proibir o uso e celular em sala de aula, a ser anunciada este mês pelo governo federal, vai melhorar a aprendizagem e a interação do aluno
Por Walber Pinto e editado por: Rosely Rocha, compartilhado de CUT
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Educadores e entidades que defendem a educação pública avaliam que o uso dos celulares nas escolas prejudica a aprendizagem do aluno e consideram como positivo a proibição do equipamento nas escolas públicas e privadas do Brasil. Para eles a medida que o governo federal prepara para ser apresentada ainda neste mês de outubro, pode ajudar, inclusive, na interação dos alunos e professores na sala de aula, o que pouco acontece hoje.
O objetivo do governo federal é reduzir os prejuízos dos alunos com o uso dos celulares. Escolas que proibiram os celulares tiveram melhora na concentração dos alunos, nas notas e até mesmo na interação entre estudantes e professores, segundo pesquisa.
Já o Relatório Global de Monitoramento da Educação da Unesco, um em cada quatro países do mundo adotou leis que proíbem o uso dos aparelhos dentro das escolas. O estudo aponta ainda que o uso do celular acarreta também na distração dos alunos e atrapalha as aulas dos professores e professoras.
Nicodemos Passinho Rabelo, 55 anos, professor da rede estadual e municipal do Maranhão com mais de 30 anos de carreira, concorda que o docente tem dificuldade de passar o conteúdo para os alunos devido ao uso excessivo dos celulares dentro da sala de aula.
“Sou favorável ao banimento do celular nas escolas públicas e privadas porque é preciso fazer alguma coisa, pois o celular está prejudicando a atenção dos alunos, que estão priorizando mais o aparelho do que as aulas que os professores estão ministrando”, diz o professor que leciona no Centro de Ensino Raimundo Rodrigues, em Serrano do Maranhão, cidade que fica a cerca de 111 km da capital São Luís.
Como seriam as regras
O governo federal prepara os detalhes da proposta, portanto, ainda não se sabe como funcionará na prática a proibição dos celulares na sala de aula. No entanto, o governo estuda uma consulta pública, depois disso a proposta seguirá para votação no Congresso Nacional.
Mas, já se discute que a regra precisa ter algumas exceções, como a liberação do celular para uso pedagógico, desde que o professor autorize, além da utilização por alunos com deficiência, transtornos de aprendizado ou questão de saúde, que necessitem do aparelho.
Sobre o uso pedagógico do celular ao invés da proibição, o professor Nicodemos afirma que é preciso avaliar melhor essa necessidade.
“Depende muito porque além do desvio de atenção, tem a filmagem não autorizada, que é um problema sério dentro da sala de aula. Eu estava ministrando aula e o aluno me filmando, transmitindo sem a minha permissão. Uma outra coisa que isso traz é a invasão de privacidade”, afirma Nicodemos.
O que dizem as entidades
Para Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), é necessário aprofundar o debate, pois, segundo ele, falta dados que indiquem quais os impactos do uso do aparelho na educação pública.
“Não podemos simplesmente copiar medidas aplicadas em outros países, que tem contexto diferente do Brasil. A escola pública atende 82% das matriculas no Brasil, não conheço dados e informações de quantos estudantes que estão na escola pública possuem celular”, disse.
“Parece necessária [a medida], pois o tempo de tela dos estudantes, não só nas escolas como nos demais ambientes, tem se demonstrado nocivo a todos. Comprovadamente, prejudica a atenção, o comprometimento, a interação entre todos e a ação inerente ao ambiente escolar na construção da aprendizagem”, defende Fábio Santos de Moraes, professor e presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
Para o dirigente, os sindicatos “não é e nunca foram contra ao uso das tecnologias dentro das escolas”, mas como um meio no processo e não um fim. Ele cita a luta que dos educadores de São Paulo contra a plataformização imposta pelo governo estadual de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“O projeto do governo paulista não contribui para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. É exaustivo e obriga estudantes, por exemplo, a passar muito tempo diante de um tablet não contribuindo com as necessárias e importantes interações e trocas no ambiente escolar”, afirma Fábio.
O Sindicato dos Professores do Paraná (APP-Sindicato) também considera como positiva a medida do governo federal de banir os celulares nas escolas. Daniel Matoso, secretário de comunicação da APP-Sindicato, concorda que é muito difícil hoje o professor disputar a atenção dos alunos porque hoje eles estão focados mais nas telas dos celulares.
“O celular é muito atrativo, é um passatempo, mas o estudante está ali e acaba não interagindo nem com o professor, nem com seus colegas nesse momento. Então, entendemos que pode ser positivo, sim, para o aluno porque ele vai a partir de agora prestar mais atenção na aula e nos professores”.
Medidas em São Paulo e Rio de Janeiro
Em São Paulo esse tema já está sendo debatido através de um projeto de lei que está em tramitação avançada na Assembleia Legislativa. A medida, que também prevê as exceções para uso pedagógico e para alunos com deficiências, estabelece que as escolas deverão definir protocolos de como armazenar os aparelhos e criar canais acessíveis para que os pais entrem em contato.
As escolas municipais do Rio de Janeiro são pioneiras na proibição do uso do celular nas escolas. Há um decreto da Prefeitura Municipal que prevê que os celulares só podem ser utilizados antes do início da primeira aula e após o final da última, sempre fora da sala de aula.
A regra foi feita por decreto em fevereiro deste ano, após uma consulta pública em que 83% das pessoas foram favoráveis ao veto.
“Muitos municípios têm sua lei, mas uma lei federal que parta do MEC [Ministério da Educação e Cultura] com o aval do Congresso Nacional, acaba tendo mais peso sobre essa incidência do uso de celular na sala de aula. Eu acho que acaba empoderando também as equipes pedagógicas, as direções de escola”, finaliza o dirigente do APP-Sindicato.