Meia duzia de coisas sobre o Coringa

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Por Walter Falceta, jornalista – 

Nada comentei sobre “O Coringa” até hoje. Sempre que me aventuro nessas observações, tomo pito por fazer spoiler.

Bom, mas agora que já passou o Oscar, ouso fazer seis observações.




1) Recentemente, vi uma treta no “shopping metrô”. O rapaz vendia umas pulseiras com relógio digital. Na refrega, o ambulante chegou a cair no chão. Juro que o imaginei levantando e fulminando seus três adversários. Uma hora, sim, vai acontecer.

2) Há um ódio mortal guardado no coração do garçom que é maltratado pelo rico cliente. O mesmo se passa na alma do guardador de carros, do artista de rua, da menina que vende chiclete no semáforo. Há um gosto perverso de certa burguesia em maltratar essas pessoas. Um hora, sim, vai ter troco.

3) O Coringa é um precarizado laboral. É um Rappi da palhaçada comercial, sem CLT, sem seguro social, um freelancer eterno e mal pago. Há muita gente sendo demitida desses subempregos urbanos, em situações geradoras de constrangimento e ressentimento. Uma hora, sim, vão reagir.

4) O desmonte dos sistemas públicos de saúde e assistência social gera realidades de angústia e desespero. Especialmente hoje, em que as drogas ilegais ou legais, são absolutamente necessárias à manutenção da sanidade de submissão. Uma hora, sim, esses excluídos vão se vingar.

5) O mundo competitivo e desregulamentado é o mundo do Coringa. No fundo, nós, os 90% esfolados e fodidos, somos cada vez mais Coringas. Neste universo, de esquerdas desarticuladas, surdas e gabineteiras, é cada ódio por si. E a massa dos excluídos e HUMILHADOS não dialoga com Robespierre, Marx, Engels, Malatesta, Marcuse ou Chomsky. O rancor que vai se acumulando é totalmente despolitizado, despartidarizado e imprevisível. Eu já vi essa dancinha estranha, prévia do horror, nas escadarias da Sé.

6) Um dia vai dar zica? Não, já deu! Sem razão e sem justiça! É o maluco do swing cortando o pinto do convidado boleiro. É doido arremessando a mulher da sacada do prédio. É empregado enfiando a faca na jugular do patrão. É briga de murros e pontapés no meio da 23 de Maio, às 18h37m. É tijolada na vidraça do vizinho em condomínio de luxo. É guardinha puto da vida tacando fogo na firma. O que não existe ainda é aglutinação. O volume? A mídia esconde para criar uma ilusão de normalidade.

Que Bial tenha cuidado ao escolher seus entrevistados.

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