Por Alcir Santos, juiz de Direito aposentado, pensador soteropolitano
Ah, difícil descrever a impressão causada por este trabalho de Miguel Paiva (foto, pintura, montagem? Pouco importa). Fez, lhes confesso, este ancião voltar aos de 69,70,71 do século passado.
Morando às margens do lago Coari, Médio Solimões, tomávamos banho nas águas, nem sempre tranquilas, onde não raro botos curiosos se aproximavam para brincar. O único perigo era a presença de alguém menstruada. Aí eles podiam ficar agressivos. Parecia até que estávamos fora da Terra, algum cantinho esquecido do Universo.
Praia, Bicho de Casco ou Tambaqui, assados ali mesmo, num fogo feito em buraco escavado na areia. Tudo muito primitivo, sim. Mas o uísque, que vinha de Letícia/Benjamim Constant, era escocês, sim. As carnes com são, limão e pimenta.
Corte. Passado tempo. Há alguns anos o ancião e sua companheira se quedam, mudos e assustados, ante um jornal televisivo. Naquela praia, tomada pelo Cólera, uma bandeira amarela tremulava, indicando proibição para banho.
Na sequência do tempo notícias ainda piores. Acharam gás na região, o processo de exploração se iniciara….do resto não precisa falar, afinal, todos sabem, mineração é sinal de desgraçAh, não só.
A imagem me trouxe a lembrança dos ribeirinhos que nos recebiam com alegria, quando os visitávamos, sempre aos domingos, correndo para pescar o peixe que nos seria servido na humilde casa da madeira.
Que alegria! Levávamos coisas da cidade, como goiabada, e fazíamos uma farra confraternizando. Eles, caboclos, pessoas vivendo em harmonia com a Natureza, eram chamados, por alguns “modernos”, de preguiçosos porque só pescavam e caçavam o que precisavam para comer; assim também com a mandioca, o milho e outros cultivos imprescindíveis. Não geravam excedentes.
Eram homens à margem da sociedade de consumo. O látex, a balata, a sorva que recolhiam, sem causar danos às árvores eram, no sistema de escambo, trocados por bens essenciais como sal, feijão, tecidos.
MENINOS EU VI!