Troca de mensagens atesta que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, sabia do caráter público dos itens
Compartilhado de Brasil 247
247 — Para a Polícia Federal já está clara a existência de um esquema de peculato (desvio de recursos públicos) envolvendo o caso das joias recebidas pelo governo de Jair Bolsonaro em viagens ao exterior. Uma série de mensagens de texto e imagens obtidas no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, revelam que ele tinha pleno conhecimento de que essas joias eram de interesse público, de acordo com a Lei 8.394, que estipula que, em caso de venda de itens similares, a União tem preferência, informou Andreia Sadi no G1.
Essas mensagens são fundamentais para a investigação em curso, pois indicam que a venda ilegal desses itens de luxo não apenas ocorria, mas também contava com a ciência de pessoas próximas ao ex-presidente. O advogado Fabio Wajngarten confirmou ao G1 a autenticidade das mensagens e ressaltou que, naquele momento, ele não estava ciente do Rolex, pois as mensagens se referiam ao “kit rosé”. No entanto, essa revelação lança luz sobre a trama que envolve a possível venda ilícita desses itens valiosos. As conversas obtidas pela PF aconteceram entre Mauro Cid, Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República (que gere o acervo de presentes) e Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro durante o mandato.
O desenrolar desse caso também revela as contradições nas declarações do ex-presidente Bolsonaro. Em março, ele afirmou não ter solicitado presentes e nem os ter recebido, mas no dia seguinte, disse que os itens recebidos seriam destinados ao acervo público. Posteriormente, após a imprensa revelar a existência de pelo menos dois kits de joias de luxo que teriam sido vendidos ilegalmente, Bolsonaro afirmou que nada havia sido extraviado ou escondido, negando qualquer venda.
No entanto, as mensagens agora reveladas indicam que não apenas o esquema de peculato estava em andamento, mas também que pessoas próximas ao ex-presidente estavam cientes das restrições legais relacionadas à venda desses bens no exterior. Essas revelações representam um desafio significativo para a defesa de Bolsonaro, que tem argumentado repetidamente que os itens eram de natureza privada e pertenciam exclusivamente ao ex-presidente.