Segundo pesquisa encomendada pelo organismo vinculado à ONU, 19% dos 2,2 mil participantes tiveram dificuldades para comprar absorventes. E 37% já tiveram dificuldades de acesso a itens de higiene em escolas e outros locais públicos
Compartilhado de RBA
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Pessoas que menstruam têm necessidades de saúde e higiene menstrual negligenciadas e acesso limitado à informação
São Paulo – O direito à menstruação digna, segura e com acesso a itens de higiene ainda é um desafio para adolescentes e jovens. Inclusive meninas, mulheres, homens e meninos trans e pessoas não binárias que menstruam. É o que revela uma enquete da plataforma U-Report, em parceria com a Viração Educomunicação, encomendada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
De acordo com a pesquisa, 19% dos 2,2 mil participantes afirmaram ter enfrentado situações em que faltaram recursos para comprar absorventes. E 37% já tiveram dificuldades de acesso a itens de higiene em escolas e outros locais públicos.
Nesta terça-feira (28), Dia Internacional da Dignidade Menstrual, o Unicef alertou que a pobreza menstrual ainda persiste no Brasil. Pessoas que menstruam têm necessidades de saúde e higiene menstrual negligenciadas devido ao acesso limitado à informação, educação, produtos, serviços, água e saneamento básico. E também a variáveis de desigualdade racial, social e de renda.
“Um dos compromissos do órgão é garantir esses direitos como resposta à pobreza menstrual, que afeta negativamente parte das pessoas que menstruam no país e contribui para manter ciclos transgeracionais de iniquidades, principalmente a de gênero. Uma vez que crianças e adolescentes não têm seus direitos à água, saneamento e higiene garantidos, também são violados outros direitos, como o direito à escola de qualidade, moradia digna e saúde, incluindo menstrual, sexual e reprodutiva”, disse a oficial de participação do Unicef no Brasil, Gabriela Monteiro.
Menstruação ainda se encontra envolta em tabus
O levantamento mostrou também que seis entre cada dez pessoas ouvidas já deixaram de ir à escola ou ao trabalho por causa da menstruação. E 86% já abstiveram de fazer alguma atividade física pelo mesmo motivo.
Além disso, a questão ainda se mantém envolta em tabus, escassez de dados e desinformação. Dos entrevistados, 77% já sentiram constrangimento em escolas ou lugares públicos por menstruarem. E a quase metade nunca teve aulas, palestras ou rodas de conversa sobre o tema na escola.
“A falta de informação contribui para o estigma e gera situações de constrangimento. Precisamos desmistificar a menstruação e criar um ambiente acolhedor para pessoas que menstruam. Os dados da enquete reforçam a necessidade de fortalecer as práticas de educação menstrual, sobretudo nas escolas, e construir políticas que promovam a dignidade menstrual para combater desigualdades e empoderar esta e as futuras gerações”, avaliou Ramona Azevedo, analista de comunicação na Viração Educomunicação.
O Unicef promove estratégias de garantia de acesso à água, saneamento e higiene. Isso inclui a instalação de estações de lavagens de mãos em escolas, apoio a adolescentes e jovens no desenvolvimento de competências para a vida, no empoderamento de meninas e na saúde menstrual. E também a distribuição de kits de higiene, como forma de enfrentar os desafios impostos pela pobreza.
Sobre a enquete
O U-Report é um programa global do Unicef que promove a participação cidadã de adolescentes e jovens em mais de 90 países. No Brasil atua em parceria com a Viração Educomunicação. As pesquisas não seguem rigor metodológico. São consultas rápidas, por meio de redes sociais entre pessoas, principalmente na faixa etária de 13 a 24 anos, cadastradas na plataforma.
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