Em 1943, a escola Rio Grande do Sul, no Engenho de Dentro, criada por Anísio Teixeira, era um prédio de salas amplas, grande terreno com brinquedos sólidos.Graças ao dinheiro arrecadado pela Caixa Escolar (os alunos davam mensalmente alguns tostões) as mestras compravam uniformes e sapatos para os que iam à escola descalços e merenda para os mais pobres.
Por Marlene Carvalho, compartilhado de Construir Resistência
Lembro da querida professora Dona Adália Lima Torres conversando baixinho com cada criança e escolhendo as que iam receber merenda. Não fui escolhida, mas fiquei curiosa. Quando houve oportunidade, subi ao refeitório e vi os colegas comendo de pé, junto a mesas nuas, em pratos e colheres de alumínio. Achei chocante,na minha casa simples, nunca se comeu numa mesa sem toalha ou num prato de alumínio.
Nos anos 50 e 60, as crianças já merendavam sentadas, a comida era mais variada, fornecida pela Prefeitura. Muitas crianças perguntavam: tem repetição? E se a resposta fosse positiva, comiam dois ou três pratos. As merendeiras eram funcionárias que faziam cursos e usavam uniformes brancos.
Na Rocinha, na escola Waldemar Falcão, houve falta d’água durante meses. A merenda passou a ser banana d’água com melado. As crianças e eu adorávamos, nunca enjoamos.
Em 1985, fazendo pesquisa para o doutorado, conheci a melhor merenda, graças ao “dinheiro direto na escola”, criação de Darcy Ribeiro. Comida de verdade, arroz, feijão, legumes, carne ou frango, uma fruta de sobremesa. Às sextas feiras as frutas que sobravam eram distribuídas à saída da escola.
Nem tudo que é bom é preservado.Em 1996, na Escola Francisco Alves, vi adolescentes fazerem guerra com os iogurtes e biscoitos ,de péssima qualidade, distribuídos todos os dias.
Na pandemia, alunos das escolas públicas ficaram dois anos sem aulas e sem merenda. Fome, muita fome.
Marlene Carvalho é professora aposentada da UFRJ